Jóias dos Mistérios Divinos - JAVÁHIRU’L-ASRÁR
Bahá’u’lláh
1:48 h Bahá’í
Jóias Dos Mistérios Divinos - Javáhiru’L-Asrár Bahá’u’lláh 1a edição - 2003 Tradução: Osmar Mendes

Jóias Dos Mistérios Divinos - Javáhiru’L-Asrár


Bahá’u’lláh

Introdução

O exílio de dez anos de Bahá’u’lláh no Iraque começou sob a mais severa das condições e numa fase extremamente frágil nos destinos da Babí. Porém, testemunhou a cristalização gradual daquelas forças espirituais potentes que iriam culminar na declaração de Sua missão mundial em 1863. No decorrer desses anos irradiava-se da cidade de Bagdá, Shoghi Effendi escreve, “onda após onda, um poder, um resplendor e uma glória que gradativamente reanimaram uma que languescia, penosamente atacada, submergindo na obscuridade, ameaçada de extinção. Dessa cidade se difundiam, dia e noite, e com sempre crescente energia, as primeiras emanações de uma Revelação que, em sua amplitude, sua profusão, sua força propulsora, e no volume e variedade de sua literatura, estava destinada a exceder a do próprio Báb”.

Dentre essas primeiras efusões da Pena de Glória encontra-se uma longa Epístola conhecida como Javáhiru´l-Asrár, que literalmente significa “jóias” ou “essências” dos mistérios. Vários temas aqui desenvolvidos foram também elaborados em persa em diferentes modalidades de redação em “Os Sete Vales” e no “Livro da Certeza”, dois volumes imortais que Shoghi Effendi definiu, respectivamente, como a maior composição mística de Bahá’u’lláh e Seu proeminente trabalho doutrinário. Sem dúvida alguma, “Jóias dos Mistérios Divinos” situa-se entre aquelas “Epístolas reveladas no idioma árabe” que foram mencionadas no “Livro da Certeza” .

Um dos temas centrais do livro, assinala Bahá’u’lláh, é o da “transformação”, significando aqui o retorno do Prometido sob a aparência de um novo ser humano. Na verdade, em uma nota de prefácio escrita precedendo as linhas de abertura do manuscrito original, Bahá’u’lláh afirma:

“Este tratado foi escrito em resposta a um buscador que havia perguntado como o prometido Mihdí pôde ser transformado em ‘Alí-Muhammad (o Báb). A oportunidade decorrente desta pergunta foi aproveitada para desenvolver diversos assuntos, todos eles de uso e benefício tanto para aqueles que buscam como para os que alcançaram, pudésseis vós perceber com os olhos da virtude divina.”

O buscador aludido na passagem acima foi Siyyid Yúsuf-i-Sidihí Isfahání, que, naquela época, residia em Karbilá. Suas perguntas foram apresentadas a Bahá’u’lláh através de um intermediário, e esta Epístola foi revelada em resposta a ele naquele mesmo dia.

Diversos outros temas também são tratados neste trabalho: o porquê da rejeição dos Profetas do passado; o perigo da leitura literal das Escrituras; o significado dos sinais e dos presságios da Bíblia, concernentes ao advento do novo Manifestante; a continuidade da revelação divina; alguns sinais da ocorrência, em breve, da própria revelação de Bahá’u’lláh; o significado de termos simbólicos como “o Dia do Julgamento”, “a Ressurreição”, “atingir a Presença Divina”, e “vida e morte”; e os estágios da busca espiritual através do “Jardim da Busca”, “a Cidade da Unidade Divina”, “o Jardim da Admiração”, “a Cidade da Absoluta Inexistência”, “a Cidade da Imortalidade”, e “a Cidade que não possui nome ou descrição”.

A publicação de “Jóias dos Mistérios Divinos” é um dos projetos assumidos em cumprimento a uma meta do Plano de Cinco Anos, anunciada em abril de 2001, para “enriquecer as traduções em inglês dos Textos Sagrados”. Esta obra irá aprofundar ainda mais os conhecimentos do leitor ocidental sobre um período pleno de potencialidade e descrito por Shoghi Effendi como “os anos primaveris do ministério de Bahá’u’lláh”, e irá ajudar os estudiosos de Sua Revelação em alcançar uma percepção mais profunda de seu desdobramento gradual.

CENTRO MUNDIAL BAHÁ’Í

Jóias dos Mistérios Divinos

A essência dos mistérios divinos nas jornadas de ascensão determinadas para aqueles que anseiam aproximar-se de Deus, o Todo-Poderoso, O que sempre perdoa abençoados sejam os retos que sorvem destas correntes cristalinas!

ELE É O EXALTADO, O MAIS ELEVADO!

Ó tu que trilhas o caminho da justiça e contemplas o semblante da clemência! Tua epístola foi recebida, tua pergunta considerada e as doces expressões de tua alma foram ouvidas, provindas dos recantos mais íntimos de teu coração. E então as nuvens da Vontade Divina formaram-se para verter sobre ti as efusões da sabedoria divina, despojar-te de tudo aquilo que até então reuniste, conduzir-te dos reinos da contradição para os retiros da unicidade, e fazer-te aproximar das correntezas sagradas de Sua Lei. Que nelas possas saciar tua sede, repousando então, refrescando a alma e ser incluído entre aqueles aos quais a luz de Deus guiou corretamente neste dia.

2. Ainda que Me encontre agora rodeado de cães da terra e animais ferozes de todas as partes, ainda que esteja velado solitário como permaneci na habitação oculta de Meu ser interior, e proibido de divulgar aquilo que Deus Me concedeu sobre as maravilhas de Seu conhecimento, as jóias de Sua sabedoria e os sinais de Seu poder, mesmo assim reluto para não frustrar as esperanças de alguém que se aproximou do santuário da grandeza, buscou entrar nos recintos da eternidade e aspirou pairar na imensidade desta criação no alvorecer do decreto divino. Portanto, relatarei a ti algumas verdades dentre aquelas sobre as quais Deus Me concedeu o entendimento, isso apenas na extensão em que as almas possam suportar e as mentes resistir, para evitar que os maliciosos levantem seu clamor ou os dissimuladores ergam seus estandartes. Imploro a Deus que misericordiosamente Me ajude nesta tarefa, pois a quem Lhe implora, Ele é o Todo-Benévolo, e dentre aqueles que mostram misericórdia é o Mais Misericordioso.

Sabe, então, que compete à sua eminência ponderar desde logo estas questões em teu coração: O que levou diferentes povos da terra a rejeitar os Apóstolos que Deus lhes enviara com Sua força e poder, aqueles que Ele fez aparecer para exaltar Sua Causa e ordenou que fossem as Lâmpadas da eternidade no Nicho de Sua unicidade? Por que razão as pessoas os rejeitaram, discutiram sobre eles, se lhes opuseram e com eles disputaram? Por que razão recusaram reconhecer seu grau de apóstolos e sua autoridade, ou melhor, por que negaram sua verdade e rivalizaram com suas pessoas, até mesmo banindo ou matando-os?

Ó tu, que adentraste a imensidão do conhecimento e buscaste refúgio na arca da sabedoria! Não antes de teres entendido os mistérios que se encontram ocultos naquilo que iremos relatar poderás alcançar as condições de e certeza na Causa de Deus e naqueles que são as Manifestações de Sua Causa, as Alvoradas de Seu Mandamento, os Tesouros de Sua revelação e os Repositórios de Seu conhecimento. Se falhares nisso, serás contado entre aqueles que não se esforçam pela Causa de Deus, nem inalaram a fragrância da dos prados da certeza, não escalaram as alturas da unidade divina, nem ainda reconheceram os graus da singularidade divina existente nas Personificações da exaltação e nas Essências de santidade.

Esforça-te, ó Meu irmão, para apreender este assunto, a fim de que os véus possam ser levantados da face do teu coração e para que possas ser reconhecido entre aqueles a quem Deus concedeu a graça de alcançar tão penetrante visão, com a qual podem contemplar as mais sutis realidades de Seu domínio, sondar os mistérios de Seu reino, perceber os sinais da transcendente Essência neste mundo mortal, e atingir um grau no qual não se faz distinção entre Suas criaturas e não se encontra imperfeição alguma na criação dos céus e da terra.

Agora que o discurso chegou a este exaltado e difícil tema, e alcançou este sublime e impenetrável mistério, sabe que os povos cristãos e judeus não entenderam a intenção contida nas palavras de Deus e nas promessas que Ele lhes fez em Seu Livro, e por esta razão negaram Sua Causa, rejeitaram Seus Profetas e desconsideraram Suas provas. Tivessem eles apenas fixado o olhar no testemunho do próprio Deus, tivessem eles recusado seguir as pegadas dos abjetos e dos tolos dentre seus líderes e sacerdotes, teriam certamente alcançado o repositório da guia divina e do tesouro da virtude, e bebido das águas cristalinas da vida eterna na cidade do Todo-Misericordioso, no jardim do Todo-Glorioso, e dentro da mais íntima realidade de Seu paraíso. Mas como se recusaram a ver com os olhos que Deus lhes dotou e desejado outras coisas diferentes daquelas que Ele, em Sua misericórdia, desejara para eles afastaram-se para longe das plagas da proximidade, privaram-se das águas vivas da reunião, bem como da fonte de Sua graça, e permaneceram como mortos dentro das mortalhas de seus próprios seres.

Através do poder de Deus e de Sua força, relatarei, agora, determinadas passagens reveladas nos Livros do passado, e mencionarei alguns dos sinais que anunciaram o aparecimento dos Manifestantes de Deus, nas pessoas santificadas de Seus escolhidos, para que tu possas reconhecer a Fonte desta eterna manhã e contemplar este Fogo que queima na Árvore que não pertence nem ao Oriente nem ao Ocidente. Talvez teus olhos sejam abertos ao alcançar a presença de teu Senhor e teu coração compartilhe das bênçãos escondidas dentro desses tesouros ocultos. Agradece, então, a Deus, que te escolheu para esta graça e te incluiu entre aqueles que seguramente encontrarão seu Senhor.

Este é o texto que foi revelado outrora, no primeiro Evangelho, de acordo com Mateus, com relação aos sinais que anunciariam o advento dAquele que viria depois dEle. Ele disse: “Ai das mulheres que estiverem grávidas ou amamentarem naqueles dias…” , até que o Pombo místico, chilreando no mais íntimo da eternidade, e a Ave celestial cantando na Árvore Divina, diga: “Logo após estes dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas. Então aparecerá no céu, o sinal do Filho do homem. Todas as tribos da terra baterão no peito e verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu, cercado de glória e majestade. E ele enviará seus anjos com estridentes trombetas.”

No segundo Evangelho, de acordo com Marcos, o Pombo da santidade se expressa nos seguintes termos: “Porque naqueles dias haverá tribulações tais como nunca houve, desde o princípio do mundo que Deus criou até agora, nem haverá jamais.” E cantará depois as mesmas melodias que antes, sem mudança ou alteração. Deus, verdadeiramente, é testemunha da veracidade de Minhas palavras.

E no terceiro Evangelho, de acordo com Lucas, está registrado: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, a aflição e a angústia apoderar-se-ão das nações perplexas, pelo bramido do mar e das ondas. E as forças dos céus serão abaladas. Então verão o Filho do homem vir sobre uma nuvem com grande glória e majestade. E quando começarem a acontecer essas coisas, saiba que o reino de Deus está próximo.”

E no quarto Evangelho, de acordo com João, está registrado: “Quando vier o Consolador, que vos enviarei por parte do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de Mim. Também, vós dareis testemunho.” E em outra parte Ele diz: “Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito.” E: “Agora vou para aquele que me enviou, e ninguém de vós me pergunta: Para onde vais? Mas porque vos falei assim…” E ainda outra vez: “Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei.” E: “Quanto vier, porém, o Espírito da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos-á as coisas que virão.”

Tais são os textos dos versos revelados no passado. Por Aquele além do Qual não existe outro Deus, decidi ser breve, pois fosse Eu repetir todas as palavras que foram enviadas aos Profetas de Deus do reino de Sua glória sublime e do Domínio de Sua poderosa soberania, todas as páginas e epístolas do mundo não seriam suficientes para exaurir Meu tema. Referências similares àquelas mencionadas, até mesmo ainda mais sublimes e exaltadas, foram feitas em todos os Livros e Escrituras do passado. Se fosse Meu desejo relatar tudo o que foi revelado anteriormente, certamente seria capaz de fazê-lo em virtude daquilo que Deus Me concedeu dos esplendores de Seu conhecimento e poder. Porém, contento-Me com aquilo que foi mencionado, para que tu não fiques cansado em tua jornada, ou sinta-se inclinado a desistir, ou para que não sejas tomado de tristeza ou pesar, nem te advenha desalento, inquietação ou fadiga.

justo em teu julgamento e reflete sobre estas excelsas elocuções. Indaga, então, daqueles que reivindicam conhecimento sem uma prova ou testemunho de Deus, e que permanecem desatentos nestes dias em que o Orbe do conhecimento e da sabedoria alvoreceu no horizonte da Divindade, compartindo com cada um o que lhe é devido e concedendo-lhes o grau e a medida devidos com relação ao que eles possam dizer quanto a estas alusões. Realmente, seu significado tem deslumbrado as mentes humanas, e mesmo as almas mais santificadas têm sido incapazes de descobrir o que elas ocultam da sabedoria consumada e do conhecimento latente de Deus.

Se disserem: “Estas palavras são verdadeiramente de Deus, e não têm outra interpretação diferente de seu significado externo”, então que objeção podem levantar contra os incrédulos entre os seguidores do Livro? Pois, quando estes viram as passagens acima mencionadas em suas próprias Escrituras, e ouviram as interpretações literais de seus sacerdotes, eles recusaram reconhecer a Deus naqueles que são as Manifestações de Sua unidade, os Expositores de Sua singularidade, e as Incorporações da Sua santidade, e falharam em acreditar neles e submeterem-se à autoridade deles. A razão disso foi porque não viram o sol escurecer, ou as estrelas caírem do céu sobre o solo, ou os anjos descerem visivelmente sobre a terra e, conseqüentemente, contenderam com os Profetas e Mensageiros de Deus. Mais ainda, que acharam discrepância entre eles e sua própria e crença, lançaram contra eles acusações como impostura, loucura, teimosia e descrença, que Me sinto envergonhado de relatar. Consulta o Alcorão e encontrarás menção de tudo isso; e sejas daqueles que entendem o seu significado. Ainda hoje essas pessoas esperam o aparecimento do que aprenderam dos seus doutores e assimilaram dos seus sacerdotes. Assim eles dizem: “Quando estes sinais serão manifestados para que possamos acreditar?” Mas se este é o caso, como se poderá refutar seus argumentos, invalidar suas provas e poder desafiá-los com relação à sua própria e compreensão de seus Livros e dos dizeres de seus líderes?

E se eles respondessem: “Os Livros que estão nas mãos dessas pessoas, que chamam de Evangelho e atribuem a Jesus, o Filho de Maria, não foram revelados por Deus e não procederam das Manifestações de Seu próprio Ser” então, isso implicaria numa cessação da graça abundante que dEle procede, Ele que é a Fonte de toda a graça. Nesse caso, o testemunho de Deus para Suas criaturas teria permanecido incompleto e Seu favor provado ser imperfeito. Sua clemência não teria sido resplandecente, nem Sua graça sobrepujada a tudo. Pois, se com a ascensão de Jesus, Seu Livro tivesse igualmente ascendido ao céu, então como Deus iria reprovar e castigar as pessoas no Dia da Ressurreição, conforme foi escrito pelos Imames da e confirmado por seus ilustres sacerdotes?

Pondera, então, em teu coração: Sendo as coisas como agora tu testemunhas, e como Nós também testemunhamos, para onde poderás fugir e junto a quem encontrar refúgio? Em quem buscar direção? Em que terra habitar e em que recanto encontrar repouso? Que caminho trilhar e quando irás encontrar sossego? O que acontecerá a ti, finalmente? Onde firmar a corda de tua e estreitar os laços de tua obediência? Por Ele que se revela em Sua unicidade e cujo próprio Ser testemunho de Sua unidade! Se fosse acesa em teu coração a chama ardente do amor de Deus, não buscarias repouso ou tranqüilidade, nem riso ou sossego, mas apressar-te-ia para alcançar as mais elevadas alturas nos reinos da proximidade, da santidade e beleza divinas. Lamentarias, sentindo-se como uma alma despojada e chorarias com o coração cheio de saudade. Nem conseguirias regressar a teu lar e abrigo, a menos que Deus descortinasse Sua Causa diante de ti.

Ó tu que te elevaste ao reino da orientação e ascendeste aos páramos da virtude! Se desejas compreender estas citações celestiais, testemunhar os mistérios do conhecimento divino e familiarizar-se com Sua Palavra toda-abrangente, então compete a ti, ó eminência, investigar estas e outras questões pertinentes à tua origem, e o destino final