´Abdu´l-Bahá, filho mais velho do Profeta Fundador da Fé Bahá´í Mundial – Bahá´u´lláh, participou, desde a infância, da perseguição, do exílio e do encarceramento de Seu amado Pai. Uma vida de sofrimento que abateria ou amarguraria a muitos, Nele só serviu para aumentar a devoção à Fé e tornar mais profunda a ternura e a compreensão que Ele dispensava tão liberalmente a todos com que tinha contato. Sua benevolência e meiga persuasão amoleciam os corações até dos inimigos mais acerbos.
Bahá´u´lláh nomeara a ´Abdu´l-Bahá Intérprete de Seus ensinamentos e Exemplar de Sua Fé. Em 1908, aos 68 anos de idade, foi Ele libertado da prisão de Akká por causa da revolta dos Novos Turcos, quando então deu início às Suas viagens ocidentais – a Londres, Paris, Stuttgart, Viena e outras cidades européias, viajando também por todos os Estados Unidos em 1912. Falou em City Temple em Londres e almoçou com o Lorde Mayor. Na América, fez discursos em universidades e igrejas, diante de sociedades pró-paz, organizações científicas e outros grupos. Durante esse tempo, teve inúmeras entrevistas com membros das várias raças e classes. Seu amor a cada alma individual, Suas exposições lógicas e Seu entendimento científico conquistaram-lhe o amor e o respeito de todos.
´Abdu´l-Bahá almoçou na casa do Tesoureiro dos Estados Unidos, foi convidado por Alexander Graham Bell a falar a uma sociedade científica da qual era presidente, palestrou com os pobres na Missão Bowery, apertando a mão de cada um, enquanto lhe oferecia um presente. Sentindo-se à vontade com todos indiferentemente – fosse estadista, cientista ou o mais humilde inquiridor, este Homem que passara a vida em encarceramento e exílio, exerceu um efeito profundo sobre inúmeras vidas. Dele disse David Starr Jordan (então Presidente da Universidade de Stanford) que Ele haveria, seguramente, de unir o Leste e o Oeste, pois seguia “o caminho místico com pés práticos”. Tolstoy considerava Seus preceitos “a forma mais elevada e mais pura do ensino religioso”.
Ao regressar para Sua residência em Haifa, ´Abdu´l-Bahá cuidou dos múltiplos assuntos da sempre-crescente Fé Bahá´í e manteve uma correspondência volumosa com pessoas de toda parte do mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial organizou extensas operações agrícolas perto de Tiberias, as quais evitaram a fome de centenas de pobres pertencentes a todas as fés religiosas. O governo britânico, impressionado por essa obra, por Seu nobre caráter e pelos grandes esforços despendidos por Ele em prol da paz e conciliação, conferiu-lhe o título de Knight, em abril de 1920.
Em volta da mesa hospitaleira de ´Abdu´l-Bahá reuniam-se representantes das várias nações, raças e religiões do mundo. Apreciavam Seu infalível humor bem como Sua profunda compreensão dos mais variados assuntos. Algumas destas “palestras à mesa” foram anotadas por Laura Clifford Barney, de Paris e publicadas como Some Answered Questions.
Para a orientação daqueles que pouco ou nada sabem acerca da Fé Bahá´í, citamos a seguinte nota traduzida da Enciclopédia Larousse:
Bahá´ismo, religião dos discípulos de Bahá´u´lláh, derivado do Babismo. – Mirza Husain ´Ali Nuri Bahá´u´lláh nasceu em Teerã em 1817. A partir de 1844 tornou-se ele um dos primeiros partidários do Báb, e devotou-se à pacífica propagação de sua doutrina na Pérsia. Após a morte do Báb, fora ele exilado, com os principais bábis, para Bagdá, e mais tarde para Constantinopla e Andrinopla, sob a vigilância do governo otomano. Foi nesta última cidade que ele declarou abertamente sua missão. Era Aquele que Deus haveria de manifestar, e que o Báb anunciara em seus escritos, o grande Manifestante de Deus, prometido para os últimos dias. Em cartas endereçadas aos principais chefes de Estado na Europa, convidava-os a reunirem-se a ele para o estabelecimento da religião e paz universais. Desde então os bábis que o reconheceram tornaram-se bahá´ís. O Sultão exilou-o (1868) para ´Akká na Palestina, onde ele redigiu a maior parte de suas obras doutrinárias, e onde morreu em 1892 (29 de maio). Confiara ele a seu filho, ´Abbas Efendi ´Abdu´l-Bahá, a missão de difundir a religião e manter a ligação entre os bahá´ís de todas as partes do mundo. Atualmente, de fato, há bahá´ís em toda parte, não somente nos países maometanos mas, também, em todos os países da Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão, na Índia, etc. Deve-se isto a ter Bahá´u´lláh sabido transformar o babismo em religião universal, a qual se afigura como o cumprimento e o complemente necessário de todas as crenças antigas.
Os judeus esperam o Messias, os cristãos a volta de Cristo, os muçulmanos o Mahdi, os budistas o quinto Buda, os zoroastrianos Shah Bahram, os indus a reencarnação de Krishna, e os ateus – uma melhor organização social! Bahá´u´lláh representa tudo isso, e assim destrói as rivalidades e inimizades das diferentes religiões; reconcilia-as em sua pureza primitiva, livrando-as da corrupção dos dogmas e dos ritos. Pois o bahá´ismo não tem clero, nem cerimônias religiosas, nem orações públicas; a crença em Deus e em Seus Manifestantes (Zoroastro, Moisés, Jesus, etc, Bahá´u´lláh) é o seu único dogma. As principais obras de Bahá´u´lláh são: Kitáb-i-Iqán, Kitáb-i-Aqdas, Kitáb-i-Ahd, e numerosas epístolas dirigidas a soberanos ou a particulares.
Não existe ritual na religião; deve ela ser manifestada em todos os nossos atos e cumprida no amor ao próximo. Devem todos ter uma ocupação. A educação da criança faz parte da religião e é por ela regulada. Ninguém tem poder de receber a confissão dos pecados nem conceder a absolvição. Os sacerdotes das religiões existentes devem renunciar ao celibato, e devem pregar pelo próprio exemplo, vivendo no meio do povo. A monogamia é universalmente recomendada, etc. As questões de que ele não trata, deixa-as para a lei civil de cada país e para as decisões do Baitu´l-Adl, ou Casas de Justiça, instituídas por Bahá´u´lláh. O respeito ao chefe do estado faz parte do respeito a Deus. Uma língua universal e a criação de tribunais de arbitragem, entre as nações, devem suprimir as guerras. “Sois todos folhas da mesma árvore e gotas do mesmo mar” – assim se expressou Bahá´u´lláh. Em resumo, não é tanto uma nova religião senão Religião renovada e unificada, dirigida hoje por ´Abdu´l-Bahá. – (Nouveau Larousse Illustre, supplement, pág. 66).
“Dei-lhe os meus momentos de maior cansaço.” Foram as palavras de ´Abdu´l-Bahá, (1) ao levantar-se da mesa, após haver respondido a uma de minhas perguntas.
Tal como foi nesse dia, assim continuou: entre as horas de trabalho sua fadiga encontrava alívio em novas atividades; em algumas ocasiões pôde ele falar extensamente; em outras, se bem que o assunto exigisse mais tempo, era chamado logo após; e às vezes passavam-se dias, e até semanas, sem que ele tivesse oportunidade de me instruir. Meu dever, porém, era ser paciente, pois tinha sempre diante de mim a maior lição – a de sua vida pessoal.
Durante as minhas várias visitas a ´Akká, estas respostas foram escritas em persa, enquanto ´Abdu´l-Bahá falava, não com o propósito de serem publicadas, mas apenas para que eu as tivesse como base de estudos futuros. No começo, tinham que ser adaptadas à tradução verbal do intérprete; mais tarde – depois de haver eu adquirido um conhecimento superficial do persa – ao meu vocabulário limitado. Isso explica a repetição de imagens e frases pois ninguém possui domínio mais extenso de expressões felizes do que ´Abdu´l-Bahá. Nestas lições, não é orador, nem poeta, mas o mestre que se adapta ao discípulo.
Este livro apresenta apenas certos aspectos da Fé Bahá´í, a qual é universal em sua mensagem e tem para cada um a resposta adaptável a seu desenvolvimento e suas necessidades especiais.
Em meu caso, foram simples os ensinamentos, a fim de corresponderem aos meus conhecimentos rudimentares, e não são, portanto, de modo algum completos ou exaustivos, como possa sugerir o Índice, o qual se acrescentou somente a fim de mencionar os assuntos ventilados. Creio, porém, que a muitos outros pode ser útil aquilo que para mim foi de tão grande valor, já que todos os homens, não obstante suas diferenças, estão unidos na mesma ânsia de buscar a realidade. Assim, pedi permissão a ´Abdu´l-Bahá para publicar estas palestras.
Não foram dadas originariamente em ordem especial. Agora, porém, foram ligeiramente classificadas, atendendo à conveniência do leitor. O texto persa foi fielmente seguido, ao ponto de prejudicar muitas vezes o inglês, fazendo-se algumas modificações, apenas quando a tradução literal parecia demasiado intrincada e obscura. As palavras aqui interpoladas – por necessidade a fim de tornar o sentido mais claro – não são apontadas como tais, para evitar a freqüente interrupção do pensamento com sinais técnicos ou explicativos. Também muitos dos nomes persas e árabes foram escritos na forma mais simples, não obedecendo estritamente a um sistema científico que talvez causasse confusão à maioria dos leitores. Só as notas indispensáveis figuram nesta primeira edição, a fim de se satisfazer, sem mais demora, o pedido para sua publicação.
LAURA CLIFFORD BARNEY
Maio de 1907.
Este livro dá as respostas de um grande Instrutor às numerosas questões que inquietam profundamente o homem moderno. Primeiramente publicado em Londres, em 1908, Some Answered Questions é tão oportuno hoje como o era naquele tempo; nossa necessidade deste livro tornou-se ainda mais aguda com a passagem dos anos. As muitas questões de que trata encontram-se ainda sem resposta ou mal entendidas na mente das massas da humanidade. Que é o homem? Existe um Deus? Como podemos conhecer a Deus? Pode Deus conversar com os homens? Que dizer dos milagres, do batismo, da Trindade, da predestinação, da imortalidade, do livre arbítrio, da reencarnação, do panteísmo e de curas? Neste livro há, também, explicações de passagens bíblicas e comentários adaptados à nossa idade de amadurecimento.
Destina-se Some Answered Questions àquele que busca com a mente aberta e o espírito independente. As respostas não são ortodoxas. A religião, livre do ritual e da tradição, torna-se racional e viva. Se o sonho de um mundo em paz acompanha a busca da verdade, se o estudioso está disposto a receber uma idéia maior do que qualquer outra já conhecida, uma idéia que o faça viver de um modo significativo para os outros bem como para ele próprio, então a Fé Bahá´í Mundial oferece a resposta.
Tolstoy disse uma vez que passamos a vida tentando desvendar os mistérios do universo, mas um prisioneiro do governo turco, Bahá´u´lláh, possui a chave. A Rainha Marie da Romênia, referindo à Mensagem de Bahá´u´lláh, escreveu: “É a Mensagem de Cristo trazida novamente, nas mesmas palavras quase, mas adaptada à diferença dos mil e tantos anos transcorridos entre o primeiro século e o nosso”. Orou Jesus: “Venha a nós o Vosso Reino”; o bahá´í sabe que a realização está próxima. O objetivo bahá´í é um mundo novo – a criação do Reino de Deus em nosso planeta. Nas palavras do Guardião da Fé Bahá´í Mundial: “Encontramo-nos no limiar de uma era cujas convulsões proclamam igualmente a agonia da ordem moribunda e as dores de parto da nova.”
Quem não percebe os sintomas de doença na sociedade contemporânea? Na opinião bahá´í, a cura só se efetuará através de um despertar espiritual. Escreveu H. G. Wells, em 1920, estas palavras significativas: “… possivelmente surgirá da agitação e da tragédia destes tempos, e da confusão diante de nós, um renascimento moral e intelectual, um renascimento religioso, de tal simplicidade e de tal âmbito que possa unir homens de raças incôngruas e tradições agora disjuntas, num modo de viver comum e estabelecido, para os serviços mundiais.”
A Fé Bahá´í Mundial oferece um renascimento espiritual para toda a humanidade, e acelera o amadurecimento do homem. Para seus adeptos, não é novo o conceito de “um só mundo”. Na Comunidade Bahá´í Mundial o Oriente encontra o Ocidente e os dois se unem em compreensão e amor. Os muitos seres divergentes aproximam-se uns dos outros para servir ao mundo, assim como Wells previu. Surge uma humanidade nova, inspirada pelas palavras de Bahá´u´lláh: “Em verdade, é o homem aquele que se dedica hoje ao serviço da humanidade inteira.”
O bahá´í almeja estabelecer uma nova civilização. Trabalha em prol da paz entre as nações; ainda mais, esforça-se por promover harmonia entre todas as raças, religiões e classes. O Guardião da Fé dá-nos uma descrição adequada do “padrão para a sociedade futura”, o qual inclui um sistema federal mundial, com uma legislatura mundial para formular as leis necessárias; um executivo mundial que tenha o apoio de uma força internacional, a fim de levar a efeito as decisões tomadas por essa legislatura; um tribunal mundial que pronuncie seu veredicto compulsório e final em qualquer disputa surgida entre os vários elementos constituintes desse sistema universal; um idioma mundial a ser ensinado nas escolas de todas as nações federadas como auxiliar às línguas nativas. Segundo seu conceito, os recursos econômicos do mundo seriam de tal modo organizados que nenhum povo se achasse desprovido; conciliar-se-iam a ciência e a religião, e os homens viriam a reconhecer universalmente um só Deus e assim prestar lealdade a uma Revelação comum.
Talvez pareça utópico esse objetivo. Obviamente, os princípios bahá´ís em geral estão adiantados para nossos tempos. Mas o presente consiste sempre nos sonhos e nas realizações do passado, e todo futuro deve ser construído hoje. E quando a um sonho e a energia que se despende a fim de torná-lo uma realidade, se junta o impulso inspirador da religião verdadeira, não há limites para as realizações do homem.
Os bahá´ís consideram a Fé a renovação de toda religião profética. A revelação é progressiva. Cristo expressou este conceito ao dizer: “Ainda tenho muitas coisas que vos dizer mas vós não as podeis suportar agora, porém quando vier aquele Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a verdade”. Cristo, como também os outros Instrutores divinos, prometeu a vinda de um Outro que guiaria mais uma vez Seus filhos…
O bahá´í vê todas as grandes religiões proféticas como partes de um plano divino para educar o homem a fim de que ele possa por sua vez levar avante “uma civilização que há sempre de evoluir”. Desde Abraão, cada Educador Divino tem trazido uma mensagem na qual se destaca algum princípio necessário, e cada vez se reiteram certos preceitos básicos por serem estes sempre verdadeiros, sempre vitais ao bem-estar do homem. Moisés trouxe uma mensagem de justiça, Buda ensinou a renúncia, Jesus o amor, Maomé a submissão. Hoje o Autor da Fé Bahá´í Mundial traz a mensagem da unidade. Mas através de todas essas mensagens se percebe a Regra de Ouro, segundo a qual todos os homens são irmãos, filhos de um só Deus.
É óbvia a razão porque o Criador tem enviado uma série de Mensageiros. Assim como a criança no jardim de infância não está pronta para enfrentar a álgebra, também os homens no tempo de Jesus estavam longe de poder compreender o conceito de um só mundo. Naquele tempo os meios de comunicação rápida não haviam ligado as nações. À medida que as condições mudam, deve a religião adaptar-se. E quando a religião declina, tem que ser revitalizada. Somente Deus pode efetuar a transformação.
Esta transformação deverá ter início no coração dos homens do mundo inteiro. O ensino religioso só pode ter efeito se se educam os corações.
Nosso Criador funciona através dos homens; são eles Seus instrumentos para criar novos padrões de ação, devendo, pois, evoluir. Urge haver homens de coração maduro bem como de mente madura. O bahá´í acredita ser possível transformar-se a natureza humana, podendo-se enobrecê-la quando o homem se sujeita espontânea e consciamente à Vontade Divina.
Deforme era a humanidade à qual Bahá´u´lláh se dirigiu, aleijada de mente e espírito, e Ele proveu a cura. Na receita que ofereceu, a vida pessoal deve imbuir-se de um grande fluxo de amor e compreensão. Quando não podemos amar um indivíduo por suas características pessoais, devemos apreciá-lo por amor a Deus. Todo homem é filho do Criador. Deve ser nosso objetivo ver a face de Deus – falando figuradamente – em toda criatura humana…
Estes ensinamentos podem ser melhor compreendidos à luz de uma breve história da Fé Bahá´í Mundial. Não deve causar admiração o fato de não se haver anunciado em todo o mundo o nascimento da Fé. Jesus não figurou em cabeçalhos no Seu tempo. H. G. Wells observou com acerto que os primórdios do renascimento religioso “nunca são conspícuos”. No dia 23 de maio de 1844, um jovem persa de vinte e cinco anos de idade, que viria a ser conhecido como o Báb, anunciou Sua missão: a de preparar o caminho para “Aquele que Deus tornaria manifesto”, e de introduzir certas reformas vitais. À medida que o número de Seus adeptos crescia, o clero maometano se alarmava. Após apenas seis anos de ensino, Ele foi martirizado publicamente por ordem desse clero. Já cumprira, porém, Sua missão. Assim como João Batista preparou os corações e as mentes para o advento de Jesus, também o Báb abriu o caminho para a vinda de Bahá´u´lláh (“Glória de Deus”).
Nascido numa família de grandes recursos, na Pérsia, em 1817, Bahá´u´lláh deveria ter seguido os passos de Seu pai, que era Ministro de Estado do Xá, porém a isso renunciou. Ainda em criança, mostrava sabedoria e bondade extraordinárias. Mais tarde abraçou os ensinamentos do Báb sem receio das conseqüências, seguindo-se resultados catastróficos: a bastonada, a confiscação de Suas propriedades, longos anos de encarceramento e exílio.
No ano de 1863, pouco antes de Seu degredo de Bagdad à cidade de Constantinopla, Bahá´u´lláh disse aos adeptos que era Aquele cuja vinda não só o Báb mas todos os Profetas haviam predito. Esta estupenda verdade se insuflara Nele num tempo de grande sofrimento físico. Seus adeptos receberam esta declaração com júbilo intenso. Muitas notabilidades, inclusive o governador de Bagdá, vieram prestar homenagens ao Prisioneiro antes de Sua partida. Finalmente, para afastarem Bahá´u´lláh das multidões que se sentiam tão atraídas a Ele e à Sua Mensagem, encarceraram-No na terrível colônia penal de ´Akká na Palestina. Por muito tempo, muros espessos excluíram-No da natureza que Ele tanto amava.
Professor Browne da Universidade de Cambridge, única pessoa do Ocidente a visitar Bahá´u´lláh, conta-nos: “Desnecessário era perguntar em presença de quem eu me achava, enquanto me curvava ante Aquele que é objeto de uma devoção e um amor que os reis bem poderiam invejar e os imperadores suspirar em vão”. Proferiu-lhe Bahá´u´lláh palavras de ânimo: “Só desejamos o bem do mundo e a felicidade das nações. Que todas as nações se unam na mesma fé e todos os homens se tornem irmãos; que se fortaleçam os laços de afeto e união entre os filhos dos homens, cesse a divergência de religião e se anulem as diferenças de raça. Que mal há nisso? E assim há de ser: essas lutas infrutíferas, essas guerras ruinosas passarão, e a Maior Paz virá. … Não se vanglorie o homem de amar à pátria; antes tenha ele glória em amar sua espécie”.
Não permitindo que exílio e encarceramento lhe sustassem a pena, Bahá´u´lláh escreveu longas epístolas aos governantes do mundo ocidental, exortando-os ao caminho da paz. Foi autor de muitos livros que abrangem inúmeros assuntos. Segundo seu conceito, a religião é uma atitude para com Deus que se reflete em nossa vida de todo dia. Assim Seus Escritos tratam da ética e moral, de fé em Deus, das relações humanas, da prece e da meditação; interpretam os Ensinamentos religiosos anteriores e as profecias do futuro; discorrem sobre a economia política, a educação e as relações entre as raças… Embora seja estupenda a pretensão de Bahá´u´lláh – a de ser o Prometido de todos os tempos, o Espírito da Verdade predito por Jesus – Sua sublime Mensagem, segundo a expõem esses Escritos, sustenta a pretensão.
Com o falecimento de Bahá´u´lláh em 1892, Seu filho mais velho, ´Abdu´l-Bahá, tornou-se Seu intérprete autorizado da nova Fé. Na conferência sobre as Religiões do Mundo realizada na Feira Mundial de Chicago, em 1893, introduziu-se esta Fé nos Estados Unidos. ´Abdu´l-Bahá visitou a América em 1912, difundindo a Mensagem de Bahá´u´lláh de costa à costa numa tournée histórica. Na última Vontade e Testamento, ´Abdu´l-Bahá nomeia Seu neto, Shoghi Effendi, o primeiro de uma sucessão de guardiões que deverão servir de intérprete dos Sagrados Escritos, para que esta nova Fé não se desintegre por causa de interpretações divergentes.
Vinte mil martírios não lograram sustar a influência dos novos Ensinamentos que vieram então a abranger o globo e são apreciados desde Egedesminde, na Groenlândia até Magallanes do Chile, a cidade mais próxima do Pólo Sul. Bahá´ís já se estabeleceram em mais de 75.000 centros nuns 300 países. Há representantes de dezenas de raças, entre elas sudaneses da África, esquimós no Alasca e maoris na Nova Zelândia; as origens religiosas são muitas; traduziu-se a literatura para 350 idiomas, inclusive doze línguas africanas. Desde as Ilhas de Fiji no Pacífico, do Japão e da Índia até a Alemanha e a Grã-Bretanha, onde quer que os bahá´ís se encontrem, corações e mentes associam-se em harmonia. Representantes da Comunidade Bahá´í Internacional ocupam atualmente lugares como delgados e observadores nas conferências internacionais e regionais das Nações Unidas, convocadas para selecionadas organizações não-governamentais. Erigiu-se em Wilmette, Illinois, uma magnífica Casa de Adoração, inaugurada em maio de 1953. Há palavras de Bahá´u´lláh inscritas sobre suas entradas que encerram pensamentos tão sublimes como estes: “A terra é apenas um país, e os seres humanos seus cidadãos”; “Não sussurres os pecados de outrem enquanto tu próprio fores pecador”; “Teu coração é Meu lar, santifica-o para Minha descida”; “Fiz da morte um mensageiro de júbilo para ti, por que lastimas?” e “A fonte de todo o saber é o conhecimento de Deus, exaltada seja Sua glória”.
As atividades bahá´ís coordenam-se harmoniosamente dentro de um sistema administrativo que é tão simples quanto eficaz. Não havendo clero, é dever dos bahá´ís ensinarem a Fé e trabalharem onde quer que haja necessidade. Há Bahá´ís isolados, outros em grupos; servem nos comitês, nas comunidades, com as Assembléias Locais, ou nas Assembléias Nacionais, ou no Conselho Internacional. Não existe facção: tomam decisões após preces e consulta franca, com espírito de amor. Aqueles eleitos aos vários cargos têm as respectivas responsabilidades em virtude de mérito, a ninguém tendo de responder senão a Deus. Deste modo consegue-se unidade em meio a grande diversidade.
Nesta Fé os homens vêem cumprirem-se as profecias, quase em nossos dias; acham a solução para seus problemas, respostas às suas preces, e paz de espírito e de coração. Os aspectos pessoais da Fé satisfazem o indivíduo; seus aspectos sociais haverão de curar uma civilização.
Quem deseja conhecer a Fé Bahá´í deve lembrar-se de que esta Fé não somente é um vibrante apelo para a paz mundial, mas também convoca a todos poderosamente para Deus. A Palavra de Deus exorta o homem neste versículo de Palavras Ocultas: “Volve tua face para a Minha e renuncia a tudo menos a Mim; pois Minha soberania dura e Meu domínio não perece. Se buscares a outro senão a Mim, ainda que procures no universo para todo o sempre, em vão será tua busca”.
Respostas a Algumas Perguntas oferece um convite para uma independente pesquisa da verdade. Basta um olhar rápido para o Índice para nos mostrar a seqüência lógica e o vasto âmbito do livro. Parte I trata, logicamente da “influência dos Profetas na evolução da humanidade”. Conceitos básicos são considerados à luz da razão. Principiando com um ensaio sobre a lei universal assim como é encontrada na natureza, procede o leitor às provas da existência de Deus, e então lhe é exposta a necessidade de um Educador Divino. Vários desses Educadores, desde Abraão são considerados à luz de Suas realizações. De tais Seres deriva a única verdadeira riqueza do homem.
Como este livro foi escrito primariamente, talvez, para a mente ocidental, Parte II trata de temas cristãos que hoje requerem esclarecimento. No cristianismo moderno a mente racional defronta-se com tropeços. Alguns desses assuntos são esclarecidos, inclusive o simbolismo religioso, o conceito do Espírito Santo e a “volta” ou segunda vinda de Cristo. Parte III apresenta-nos uma explicação racional daquele Ser tão pouco compreendido, o Profeta. Em verdade, é só por Seu intermédio que Deus pode dirigir-se precisamente a grupos inteiros de pessoas ao mesmo tempo. Parte IV, por outro lado considera aspectos do homem comum, também pouco compreendido. Aqui temos ampla oportunidade de descobrir quem é o homem e para onde ele vai. Parte V conclui o livro e trata de “Temas Variados”. São persuasivas as respostas dadas, sejam para um problema prático como o da greve ou a teoria do panteísmo.
Este livro fará um apelo ao raciocínio do homem mais do que à sua emoção. Esclarecerá o pensador que tenha tido instrução religiosa, enquanto ao mesmo tempo servirá de estímulo para o agnóstico e o ateu. Seus capítulos acentuam mais a crença pessoal do homem do que sua conduta social. A Fé Bahá´í Mundial, no entanto, invoca tanto a emoção como o raciocínio. É uma religião a um tempo, pessoal e social.
ANNAMARIE K. HONNOLD
A Natureza é a condição, a realidade, que consiste aparentemente em vida e morte ou, em outras palavras, na composição e decomposição de todas as coisas.
Essa Natureza está sujeita a uma organização absoluta, a leis determinadas, a uma ordem completa, a um plano consumado, dos quais jamais se afastará, e a tal ponto que, se examinarmos a criação atentamente, com vista aguçada, desde o mais microscópio átomo até aos maiores astros do universo, tais como o globo solar ou as outras grandes estrelas e esferas luminosas – seja observando sua posição, sua composição, sua forma ou seu movimento – verificaremos, na realidade, acharem-se todos no mais alto grau de organização, e sujeitos a uma lei, da qual jamais se poderão afastar.
Ao contemplarmos, porém, a própria Natureza, vemos que ela não tem inteligência ou vontade. O fogo, por exemplo, tem como qualidade inerente a de queimar, e queima, pois, sem vontade ou inteligência; a água por natureza flui, assim fazendo sem vontade ou inteligência; é da natureza do sol brilhar, e ele brilha sem vontade ou inteligência; o vapor, segundo exigência de sua natureza, sobe, assim agindo sem vontade ou inteligência. Torna-se evidente, pois, que os movimentos naturais de todas as coisas são involuntários; não há movimento voluntário, exceto nos animais e, sobretudo, no homem. O homem pode desviar-se da Natureza e ir de encontro às suas leis, porque conhece a constituição das coisas, e assim domina as forças da Natureza; todas as suas invenções são devidas à sua descoberta da constituição das coisas, como, por exemplo, o telégrafo, meio de comunicação entre oriente e ocidente. É óbvio, pois, que o homem rege a Natureza.
Ora, vendo essa tão perfeita organização, essa ordem e lei, pode-se dizer que tudo isso seja efeito da Natureza, embora ela não possua nem inteligência nem percepção? Se não é assim, essa Natureza, que carece de percepção e inteligência, está, evidentemente, nas mãos de Deus, o Todo-poderoso, Regente do mundo da Natureza. Tudo que é de Seu desejo, Ele faz a Natureza manifestar.
Uma das coisas que apareceram no mundo da existência e um dos requisitos da Natureza, é a vida humana. Considerado sob esse aspecto, o homem é o ramo, e a Natureza a raiz; será, então, possível que a vontade, a inteligência, e as perfeições que existem no ramo, não existam na raiz?