O ADVENTO DA JUSTIÇA DIVINA
SHOGHI EFFENDI
3:45 h Bahá’í 138.4 mb
POR SHOGHI EFFENDI Tradução de LEONORA STERLING ARMSTRONG EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL Rio de Janeiro 1977 Tradução do original inglês “THE ADVENT OF DIVINE JUSTICE” Primeira edição: 1970 Segunda edição: 1977 EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL Rua Engenheiro Gama Lobo, 267 Rio de Janeiro
O ADVENTO DA JUSTIÇA DIVINA

Aos bem-amados de Deus e às servas do Misericordioso em toda parte dos Estados Unidos e do Canadá

Meus mais amados irmãos e irmãs no amor de Bahá’u’lláh:

Seria difícil, emverdade, expressar adequadamente os sentimentos de irreprimível alegria e júbilo que me inundam o coração todas as vezes que faço pausa para contemplar as incessantes evidências da energia dinâmica que anima os destemidos pioneiros da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh ao executarem o Plano do qual foram incumbidos. A fidelidade, o vigor e a minuciosidade com que vós estais realizando as múltiplas operações que a evolução do Plano Setenial necessariamente de implicar, são atestados, além da mais ligeira sombra de dúvida, pelo fato de haverem vossos eleitos representantes nacionais assinado o contrato, o que assinala o começo da fase final do maior empreendimento jamais iniciado por aqueles que seguem no Ocidente a instituída por Bahá’u’lláh, e outrossim pelo progresso extremamente animador registrado nos sucessivos relatórios de seu Comitê Nacional de Ensino. Em ambos os seus aspectos e em todos os seus detalhes, o Plano está sendo levado a efeito com regularidade e precisão exemplares, sem diminuição em eficiência e com louvável prontidão.

O expediente demonstrado pelos representantes nacionais dos crentes americanos, de uma maneira tão impressionante, nos meses recentes, como evidenciado pelas medidas sucessivas por eles adotadas, foi igualado pelo apoio leal, inquestionável e generoso que todos aqueles a quem representam lhes têm outorgado, a cada etapa crítica, e com todo novo avanço, no desempenho de seus deveres sagrados. Tão estreita interação, tão completa coesão, com harmonia e camaradagem tão contínuas entre os vários agentes que contribuem para a vida orgânica de cada comunidade bahá’í em pleno funcionamento, constituindo-lhe a estrutura básica é fenômeno que apresenta um contraste frisante às tendências rompedoras que os elementos discordantes da sociedade hodierna tão tragicamente manifestam. Enquanto cada aparente provação com a qual a insondável sabedoria do Todo-Poderoso julga necessário afligir Sua comunidade eleita, serve apenas para demonstrar novamente sua solidariedade essencial e firmar sua força interior, por outro lado, cada uma das sucessivas crises nos destinos de uma era decadente expõe, de um modo mais convincente do que fez sua antecessora, as influências corrosivas que rapidamente solapam a vitalidade e minam a base de suas instituições declinantes.

Por tais provas da intervenção de uma Providência sempre-vigilante, os que se identificam com a Comunidade do Nome Supremo devem sentir-se eternamente gratos. De cada novo sinal de Sua infalível graça, por um lado, e da revelação de Sua cólera por outro, não podem senão derivar imensa esperança e coragem. Atentos para aproveitarem toda oportunidade que as revoluções da roda do destino dentro de sua lhes oferecem, e intrépidos perante a perspectiva de convulsões espasmódicas que haverão, cedo ou tarde, de afetar fatalmente aqueles que recusaram abraçar sua luz, eles, bem como seus sucessores nessa tarefa, deverão ir avante até que os processos postos em movimento tenham despendido, cada um, sua força e contribuído seu quinhão para o nascimento da Ordem agora movendo-se na matriz de uma era que sente as dores de parto.

Crises que se Repetem

Essas crises que se repetem e que, com ominosa freqüência e uma força irresistível, afligem uma sempre-crescente porção da espécie humana, haverão necessariamente de continuar a exercer sua influência nociva, até certo ponto e, embora não seja permanentemente, sobre uma comunidade mundial que estendeu suas ramificações até os mais remotos confins da Terra. Como podem os primórdios de um cataclismo mundial, desenfreando forças que estão perturbando tão gravemente o equilíbrio social, religioso, político e econômica de uma sociedade organizada, levando ao caos e à confusão os sistemas políticos, as doutrinas raciais, os conceitos sociais, os padrões culturais, as associações religiosas e relações comerciais como podem tais agitações, em tão vasta escala, tão sem precedentes, deixar de produzir qualquer repercussão sobre as instituições de uma de tão terna idade e cujos ensinamentos têm uma relação direta e vital com cada uma dessas esferas de vida e conduta humanas?

Não é de se admirar, pois, se aqueles que estão erguendo a bandeira de uma tão difundida, de uma Causa tão desafiadora, se vêem afetados pelo impacto dessas forças que abalam o mundo. Não é de se admirar se, em meio a esse redemoinho de paixões em contenda, sua liberdade tem sido reduzida, seus princípios desprezados, suas instituições atacadas, seus motivos difamados, sua autoridade posta em perigo, sua pretensão rejeitada.

No coração do continente europeu, uma comunidade que, em virtude de suas potencialidades espirituais e sua situação geográfica, é destinada, segundo predisse ‘Abdu’l-Bahá, a irradiar o esplendor da luz da sobre os países circunvizinhos, está momentaneamente eclipsada por causa das restrições que um regime lamentavelmente errado quanto a seu propósito e sua função, se dignou de lhe impor. Silenciada está agora, infelizmente, a sua voz; dissolvidas estão as suas instituições, proscrita a sua literatura, confiscados os seus arquivos e suspensas as suas reuniões.

Na Ásia central, na cidade que goza de incomparável distinção de ter sido escolhida por ‘Abdu’l-Bahá como sede do primeiro Mashriqu’l-Adhkar do mundo bahá’í, bem como nas cidades e aldeias da província à qual pertence, a tão penosamente oprimida de Bahá’u’lláh, em conseqüência da vitalidade extraordinária, inigualável, que ela tem manifestado consistentemente no decorrer de várias décadas, vê-se à mercê de forças, as quais, alarmadas diante de seu crescente poder, se empenham a reduzi-la à impotência absoluta. Seu Templo, embora usado ainda para fins de adoração bahá’í, foi desapropriado, sendo dissolvidos seus comitês e Assembléias, embaraçadas suas atividades de ensino, deportados seus principais propagadores e presos seus mais entusiásticos defensores, tanto mulheres como homens.

Em sua terra natal, onde reside a imensa maioria de seus adeptos país cuja capital foi saudada por Bahá’u’lláh como a “mãe do mundo” e “o alvorecer do júbilo da humanidade” uma autoridade civil ainda não separada oficialmente das influências paralisantes de um clero antiquado, fanático, excessivamente corrupto, prossegue implacavelmente sua campanha de repressão contra os aderentes de uma que, bem perto de um século, em vão se esforça por suprimir. Indiferente para o fato de que os membros desta comunidade inocente, proscrita, podem com justeza pretender contar-se entre os mais desinteressados, os mais capazes e os mais ardentemente dedicados amigos de sua terra natal, desdenhosa de seu alto senso de cidadania mundial que os defensores de um excessivo e estreito nacionalismo jamais podem esperar apreciar tal autoridade recusa conceder a uma que estende sua jurisdição espiritual sobre quase seiscentas comunidades locais e cujos aderentes excedem em número aos da Cristã ou da judaica ou da zoroastriana naquela terra, o necessário direito legal de executar suas leis, administrar seus assuntos, dirigir suas escolas, celebrar suas festas, circular sua literatura, solenizar seus ritos, erigir seus prédios e salvaguardar suas doações.

E agora, recentemente na própria Terra Santa, coração e centro de uma que abrange o mundo, os fogos da animosidade racial, da luta fratricida, do desavergonhado terrorismo, atearam uma conflagração que, por um lado, afeta gravemente aquele fluxo de peregrinos que constitui o sangue vital desse centro e, por outro, suspende os vários projetos que haviam sido iniciados com referência à preservação e extensão das áreas adjacentes aos sagrados lugares que entesoura. A segurança da pequena comunidade de adeptos residentes, em face da crescente maré de desordem, periclita, sendo indiretamente desafiada sua condição de comunidade neutra e distinta, e restrita sua liberdade para observar algumas de suas cerimônias. Uma série de assaltos homicidas, alternando com explosões de fanatismo amargo, tanto racial como religioso envolvendo os líderes bem como os seguidores das três Fés principais naquele país agitado tem, em algumas ocasiões, ameaçado cortar todas as comunicações normais, não dentro de seus confins mas também com o mundo de fora. Por perigosa que tenha sido a situação, os Lugares Sagrados Bahá’ís, objeto da adoração de uma mundial não obstante seu número e sua posição exposta e embora, aparentemente, privados de qualquer meio de proteção têm sido preservados de uma maneira nada menos que milagrosa.

Um mundo lacerado por paixões em choque, desintegrando-se perigosamente de dentro, vê-se, numa época tão crucial de sua história, face à face com o sempre crescente êxito de uma nascente essa que parece, algumas vezes, ser envolvida em suas controvérsias, emaranhada pelos seus conflitos, eclipsada por suas sombras que se acumulam e sobrepujada pela maré crescente de suas paixões. Em seu próprio coração, dentro de seu berço, na sede de seu primeiro e venerável Templo, num de seus centros outrora florescentes e potencialmente fortes, a Fé, ainda não emancipada, de Bahá’u’lláh, parece realmente haver recuado perante as forças impetuosas da violência e da desordem às quais a humanidade está consistentemente caindo vítima. As cidadelas dessa Fé, uma por uma e dia após dia, ao que parece, estão sendo sucessivamente isoladas, atacadas e capturadas. Enquanto as luzes da liberdade bruxuleiam e se extinguem, enquanto o ruído da discórdia se torna cada dia mais intenso, enquanto os fogos do fanatismo flamejam com crescente ferocidade nos peitos dos homens e o frio da irreligião se alastra furtiva mas inexoravelmente sobre a alma da humanidade, parece que os membros e órgãos que constituem o corpo da de Bahá’u’lláh tenham vindo a sofrer, em grau variável, as influências mutiladoras que atualmente se apoderam do mundo civilizado em sua totalidade.

De que modo claro e impressionante estão sendo demonstradas, nesta hora, as seguintes palavras de ‘Abdu’l-Bahá: “A escuridão do erro que envolveu o Oriente e o Ocidente está, neste mais grandioso ciclo, batalhando contra a luz da Guia Divina. Suas espadas e lanças estão muito agudas e afiadas; seu exército, veementemente sanguinário. “Neste dia”, escreve Ele em outra passagem, “os poderes de todos os líderes da religião têm em mira dispersar a congregação do Todo-Misericordioso e demolir a Estrutura Divina. As hostes do mundo, quer sejam materiais, culturais ou políticas, dão assalto de todos os lados, pois a Causa é grande, muito grande. Sua grandeza está, neste dia, clara e manifesta aos olhos dos homens.”

Principal Cidadela que Ainda Permanece

A principal cidadela que ainda permanece, o poderoso braço que persiste em erguer altamente o estandarte de uma invencível, não é outra que a bem-aventurada comunidade dos seguidores do Nome Supremo no continente norte-americano. Com suas obras e através da infalível proteção que lhe é outorgada por uma Providência toda-poderosa, esse distinto membro do corpo das comunidades bahá’ís de Oriente e Ocidente, promete vir a ser considerada universalmente como o berço bem como a cidadela da Nova Ordem Mundial do futuro, que é a um tempo a promessa e a glória da Dispensação associada ao nome de Bahá’u’lláh.

Se alguém se inclina a menosprezar a dignidade incomparável conferida a essa comunidade, ou duvidar do papel que lhe incumbirá a desempenhar nos dias vindouros, que pondere a implicação destas palavras prenhes de significação e altamente iluminadoras, que foram proferidas por ‘Abdu’l-Bahá e dirigidas a ela num tempo em que os destinos de um mundo gemendo sob o peso de uma guerra assoladora haviam alcançado seu nadir. “O continente da América”, escreveu Ele tão significativamente, “é, aos olhos do Deus único, verdadeiro, a terra onde os esplendores de Sua luz haverão de se revelar, onde os mistérios de Sua se desvelarão, onde os justos haverão de habitar e os livres se reunirem.”

A comunidade dos bahá’ís do continente norte-americano a um tempo a iniciadora primaz e o padrão das futuras comunidades que a de Bahá’u’lláh é destinada a erguer por toda a extensão do Hemisfério Ocidental essa comunidade, a despeito da negrura predominante, mostrou sua capacidade de ser reconhecida como porta-tocha daquela luz, o repositório daqueles mistérios, o exponente daquela justiça e o santuário daquela liberdade. A que outra luz seria possível que estas palavras supracitadas aludissem, senão à luz da glória da Idade Áurea da instituída por Bahá’u’lláh? Quais mistérios poderia ‘Abdu’l-Bahá ter contemplado, a não ser os mistérios daquela Ordem Mundial embrionária que agora evolui dentro da matriz de Sua Administração? Qual a justiça senão aquela cujo reinado essa Era e essa Ordem tão somente poderão estabelecer? Qual a liberdade, a não ser a liberdade que a proclamação de Sua soberania, na plenitude dos tempos, haverá de conceder?

A comunidade dos organizados promotores da de Bahá’u’lláh no continente americano descendentes espirituais dos rompedores da aurora de uma Era heróica, que com sua morte proclamaram o nascimento dessa deverá, por sua vez, inaugurar, não pela sua morte, mas sim, através do sacrifício, em vida, a prometida Ordem Mundial, a concha destinada a entesourar aquela jóia de inestimável valor, a civilização mundial que a própria Fé, tão somente, poderá gerar. Enquanto suas comunidades irmãs se arqueam sob os ventos tempestuosos que lhes batem de todos os lados, essa comunidade, preservada pelos imutáveis decretos do onipotente Ordenador e derivando sustento contínuo do mandato do qual as Epístolas do Plano Divino a investiram, ocupa-se diligentemente em lançar os alicerces e em promover o crescimento daquelas instituições que haverão de prenunciar a aproximação da Era destinada a testemunhar o nascer e o surgir da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh.

Uma comunidade, relativamente insignificante a respeito de força numérica; separada por distâncias vastas, tanto do centro focal de sua como da terra onde reside a massa preponderante de seus companheiros de crença; pela maior parte, destituída de recursos materiais e sem experiência ou proeminência; desconhecendo as crenças, os conceitos e os hábitos daqueles povos e raças das quais descenderam seus Fundadores espirituais; sem familiaridade alguma com os idiomas nos quais foram revelados originariamente seus Livros Sagrados; constrangida a depender unicamente de uma tradução inadequada de apenas uma porção fragmentária da literatura que incorpora suas leis, seus princípios e sua história; sujeita, desde a infância, a provações de severidade extrema, envolvendo, algumas vezes, a apostasia de alguns de seus membros mais proeminentes; tendo de enfrentar sempre, desde seu início, num grau crescente, as forças da corrupção, da lassidão moral, e do preconceito arraigado uma comunidade como essa, em menos de meio século, e sem o auxílio de qualquer de suas comunidades irmãs, quer do Oriente ou do Ocidente, em virtude da potência celestial, da qual um Mestre misericordioso tão abundantemente a dotou, tem prestado um ímpeto ao progresso da Causa por ela abraçada que as realizações em conjunto de seus correligionários do Ocidente não conseguiram rivalizar.

Que outra comunidade podemos perguntar em confiança tem sido o meio de fixar o padrão e de fornecer o impulso inicial àquelas instituições administrativas que constituem a vanguarda da Ordem Mundial de Bahá’u’lláh? Que outra comunidade foi capaz de demonstrar, com tamanha consistência, o expediente, a disciplina, a determinação férrea, o zelo e a perseverança, a devoção e a fidelidade, tão indispensáveis à ereção e à contínua extensão da estrutura dentro da qual, tão somente, aquelas instituições nascentes possam multiplicar e madurar? Qual a outra comunidade que se haja provado incendiada por tão nobre visão, ou disposta a elevar-se a tão grandes alturas de abnegação, ou preparada para atingir tão avançado grau de solidariedade, que pudesse erguer, em tão pouco tempo e no curso de anos tão cruciais, uma estrutura que em merecesse ser considerada a maior contribuição jamais feita pelo Ocidente à Causa de Bahá’u’lláh? Qual a outra comunidade que possa pretender com justeza haver conseguido, através dos esforços de um de seus membros mais humildes, sem apoio algum, ganhar a espontânea lealdade de Realeza à sua Causa e obter tão maravilhosos testemunhos, por escrito, à sua verdade? Que outra comunidade mostrou a previsão, a capacidade de organização, o fervor entusiasta, que levaram ao estabelecimento e à multiplicação, em todo o seu território, daquelas escolas iniciais que, com o decorrer do tempo, haverão por um lado de evoluir em poderosos centros de conhecimentos bahá’ís e, por outro, de prover terreno fértil de recrutamento para o enriquecimento e consolidação de sua equipe de ensino? Que outra comunidade produziu pioneiros que a tal ponto reunissem as qualidades essenciais de audácia, consagração, tenacidade, abnegação e devoção incondicional que os levaram a abandonar seus lares, renunciar tudo e espalhar-se sobre a superfície do globo, e a içar nos mais remotos confins da Terra a bandeira triunfante de Bahá’u’lláh? Quem senão os membros dessa comunidade ganharam a distinção eterna de serem os primeiros a erguer a chamada de Bahá’u’l-Abhá em territórios e centros de tão alta importância e espalhados sobre tão vasta área como não o coração do Império Britânico mas também do Francês, a Alemanha, o Extremo Oriente, os Estados Balcânicos, os países escandinavos, a América Latina, as Ilhas do Pacífico, a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia, e agora, mais recentemente, os Estados Bálticos? Quem senão esses mesmos pioneiros têm se mostrado prontos para empreender a tarefa, exercer a paciência e providenciar os fundos necessários para a tradução e a publicação, em nada menos de quarenta idiomas, de sua literatura sagrada, cuja disseminação é requisito essencial a qualquer campanha de ensino efetivamente organizada? Que outra comunidade pode asseverar ter exercito um papel decisivo nos esforços mundiais feitos para salvaguardar e estender as cercanias imediatas de seus sagrados túmulos, como também para a aquisição preliminar das futuras