A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá
Category: Bahá’í
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Título original em inglês: The Will and Testament of ‘Abdu’l-Bahá © Copyright 2006 Todos os direitos em português reservados para: EDITORA BAHÁ’Í DO BRASIL Rua Dr. Edgard Netto de Araújo, 104 – Centro 13800-178 – Mogi Mirim – SP www.editorabahaibrasil.com.br 1ª Edição: 1954 (excertos) 2ª Edição: 1982 3ª Edição: 2006 (revisada e ampliada) 4ª Edição: 2017 (revisada) ISBN 978-85-320-0304-1 Tradução e revisão sob os auspícios da Coordenação Nacional de Tradução e Revisão
A Última Vontade e Testamento de ‘Abdu’l-Bahá

Primeira Parte

Seguem Aqui Contidas as Epístolas E O Testamento De ‘Abdu’L-Bahá

Todo louvor Àquele que, com o Escudo de Seu Convênio, resguardou o Templo de Sua Causa contra os dardos da dúvida, Quem com as Hostes de Seu Testamento preservou o Santuário de Sua Mais Benévola Lei e protegeu Seu Caminho Reto e Luminoso, detendo, assim, a investida da companhia dos rompedores do Convênio, que ameaçavam subverter-Lhe a Edificação Divina; Quem zelou por Sua Poderosa Fortaleza e Toda-Gloriosa Fé ajudado por homens a quem a calúnia do difamador não afeta, a quem nenhum apelo, prestígio ou poder terrenos podem desviar do Convênio de Deus e Seu Testamento, firmemente estabelecidos por Suas palavras claras e manifestas, reveladas e escritas pela Sua Pena Toda-Gloriosa e registradas na Epístola Preservada.

Saudações e louvor, bênção e glória repousem sobre aquele ramo primaz do Loto Sagrado e Divino que brotou abençoado, tenro, verdejante e florescente das Santas Árvores Gêmeas; a mais maravilhosa pérola, inestimável e sem igual, que cintila dos encapelados mares Gêmeos; sobre os ramos da Árvore da Santidade, os rebentos da Árvore Celestial, aqueles que se mantiveram, no Dia da Grande Divisão, seguros e firmes no Convênio; sobre as Mãos (pilares) da Causa de Deus, que difundiram largamente as Fragrâncias Divinas, declararam Suas Provas, proclamaram Sua Fé, divulgaram em toda parte Sua Lei, desprenderam-se de tudo exceto d’Ele, simbolizaram a retidão neste mundo e atearam o Fogo do Amor de Deus nos próprios corações e almas de Seus servos; sobre aqueles que acreditaram, mantiveram-se assegurados, permaneceram firmes em Seu Convênio e seguiram a Luz que, após meu falecimento, brilha da Aurora da Guia Divina– pois ei-lo!– ele é o ramo abençoado e sagrado que brotou das Santas Árvores Gêmeas. Bem-aventurado quem procura o abrigo de sua sombra que ampara toda a humanidade.

Ó vós, amados do Senhor! A maior de todas as coisas é a proteção da Verdadeira Fé de Deus, a preservação de Sua Lei, a salvaguarda de Sua Causa e o serviço à Sua Palavra. Dez mil almas derramaram rios de seu sagrado sangue nesse caminho, ofereceram-Lhe em holocausto suas vidas preciosas, apressaram-se, enlevadas em um santo êxtase, ao glorioso campo do martírio, içaram o Estandarte da Fé Divina e escreveram com seu próprio sangue vital, sobre a Epístola do mundo, os versículos de Sua Unidade Divina. O sagrado peito de Sua Santidade, o Excelso (possa minha vida ser oferecida em sacrifício a Ele), tornou-se alvo de inúmeros dardos de tribulações e, em Mázindarán, os abençoados pés da Beleza de Abhá (possa minha vida ser oferecida em holocausto aos Seus amados) foram tão penosamente açoitados que sangraram e ficaram profundamente feridos. Também, Seu pescoço foi colocado em correntes usadas em cativeiro e prenderam-Lhe os pés em um tronco. Durante um período de cinquenta anos, caía sobre Ele, a todo instante, uma nova provação e calamidade, e novas aflições e preocupações O cercavam. Uma delas: após haver sofrido vicissitudes intensas, ficou sem lar, vagando de lugar em lugar, e foi vítima de ainda outros desgostos e tribulações. No Iraque, o Sol do mundo foi a tal ponto exposto aos ardis do povo da malícia que Lhe eclipsaram o esplendor. Mais tarde, exilaram-n’O à Grande Cidade (Constantinopla) e de lá à Terra do Mistério (Adrianópolis), de onde, afinal, transferiram-n’O para a Maior Prisão (‘Akká), penosamente injustiçado. Aquele a Quem o mundo injuriou (possa minha vida ser sacrificada por Seus amados) foi banido de cidade em cidade, por quatro vezes, até ser finalmente condenado à prisão perpétua, sendo então encarcerado nesta prisão, a prisão de salteadores, bandidos e homicidas. Tudo isso é apenas uma das muitas provações que afligiram a Abençoada Beleza, sendo as demais igualmente lastimosas.

E ainda outra de Suas provações foi a hostilidade, a flagrante injustiça, a iniquidade e a rebelião de Mírzá Yaḥyá. Embora aquele Injustiçado, aquele Prisioneiro, sempre o tivesse acalentado em Seu próprio seio, desde seus primeiros anos, com Sua ternura, tivesse lhe dispensado a todo momento Seu carinhoso desvelo exaltando-lhe o nome, protegendo-o contra todo infortúnio, tornando-o amado por aqueles deste mundo e do vindouro, e a despeito dos firmes conselhos e exortações de Sua Santidade, o Excelso (o Báb) e de Sua advertência clara e concludente: “Acautela-te, acautela-te, para que as Dezenove Letras do Vivente e o que foi revelado no Bayán não sejam velados de ti!” No entanto, apesar de tudo isso, Mírzá Yaḥyá O negou e tratou com falsidade, não acreditou n’Ele, lançou as sementes da dúvida, fechou os olhos para Seus versículos manifestos e deles se afastou. Oxalá tivesse se contentado com isso! Mas não, até tentou derramar o sagrado sangue (de Bahá’u’lláh) e então levantou um grande clamor e tumulto ao seu redor, atribuindo a Bahá’u’lláh malevolência e crueldade para com ele. Quanta sedição instigou e que tempestade de malícia fez surgir enquanto na Terra do Mistério (Adrianópolis)! Finalmente, perpetrou aquilo que causou o desterro do Sol do mundo para esta, a Maior Prisão, e foi no oeste desta Grande Prisão que, gravemente injustiçado, o pôr deste Sol se fez.

Ó vós que permaneceis constantes e firmes no Convênio! O Centro da Sedição, o Promotor Primaz do Mal, Mírzá Muḥammad-ʻAlí, não mais se encontra à sombra da Causa, tendo rompido o Convênio, falsificado o Texto Sagrado, infligido uma perda lastimável à verdadeira Fé de Deus, dispersado Seu povo e, com amargo rancor, tentado afligir ‘Abdu’l-Bahá atacando com a máxima hostilidade este servo do Sagrado Limiar. Todos os dardos que tomou, ele os lançou com o fim de crivar o peito deste servo injustiçado, não deixando de infligir a mim as mais graves feridas, sem poupar veneno algum, envenenando assim a vida deste infeliz. Juro pela mais sagrada Beleza de Abhá e pela Luz que irradia de Sua Santidade, o Excelso (possa minh’alma ser um sacrifício pelos Seus humildes servos), que por causa dessa iniquidade os que habitam o Pavilhão do Reino de Abhá têm-se lastimado, a Assembleia Celestial lamenta-se, as Donzelas Imortais do Céu erguem seu brado melancólico no Supremo Paraíso e a companhia dos anjos suspira e emite seus gemidos. Tão lastimáveis se tornaram as ações dessa iníqua pessoa que, com seu machado, atingiu a raiz da Árvore Abençoada, desferiu um pesado golpe contra o Templo da Causa de Deus, fez transbordarem lágrimas de sangue dos olhos dos amados da Abençoada Beleza, animou e encorajou os inimigos do Deus Uno e Verdadeiro, afastou da Causa de Deus, com seu repúdio ao Convênio, muitos que buscavam a Verdade, revitalizou as esperanças frustradas dos seguidores de Yaḥyá, fez-se detestado, induziu os inimigos do Nome Supremo a se tornarem audazes e arrogantes, rejeitou os versículos firmes e concludentes, e lançou as sementes da dúvida. Se a prometida ajuda da Antiga Beleza não tivesse sido benevolamente concedida, a todo momento, a este ser, por indigno que seja, aquele certamente teria destruído– não, mais ainda– exterminado a Causa de Deus e subvertido completamente a Edificação Divina. Mas, louvado seja o Senhor, o triunfante auxílio do Reino de Abhá foi recebido, as hostes do Reino do além apressaram-se para conceder a vitória. A Causa de Deus foi largamente difundida, o chamado do Verdadeiro retumbou em toda parte, os ouvidos em todas as regiões inclinaram-se para a Palavra de Deus, desfraldou-se Seu estandarte, as insígnias da Santidade tremularam gloriosas no alto e os versículos que celebram Sua Unidade Divina foram entoados. Desta forma, a fim de que a verdadeira Fé de Deus possa ser amparada e protegida, Sua Lei possa ser resguardada e preservada, e Sua Causa, mantida salva e segura, incumbe a todos manterem-se fiéis ao Texto do claro, firmemente estabelecido versículo abençoado, revelado a respeito dele. Nenhuma outra transgressão maior que esta poderá jamais ser imaginada. Diz Ele (Bahá’u’lláh), gloriosa e santa é Sua Palavra: “Meus amados insensatos o têm considerado até mesmo como sendo meu companheiro, atearam sedição na terra e são, em verdade, os causadores de malefícios.” Considerai como é insensato o povo! Os que estiveram em Sua Presença (Bahá’u’lláh) e contemplaram Seu Semblante, no entanto, reverberaram largamente tais palavras vãs até que, exaltadas sejam Suas Palavras explícitas, Ele disse: “Se ele, por um momento, sair da sombra protetora da Causa, será seguramente reduzido ao nada.” Refleti! Quanta importância Ele dá ao ato de se desviar por apenas um momento: isto é, fosse ele inclinar-se para a direita ou para a esquerda na largura de um fio de cabelo, seu afastamento seria claramente estabelecido e sua completa inexistência, tornada manifesta. E agora testemunhais como a ira de Deus o afligiu de todos os lados e como ele, dia a dia, precipita-se para a destruição. Dentro em breve o vereis e seus associados, interna e externamente, condenados à completa ruína.

Qual desvio maior do que o rompimento do Convênio de Deus? Qual desvio maior do que a interpolação e falsificação das palavras e dos versículos do Texto Sagrado, assim como Mírzá Badí’u’lláh declarou e deu testemunho? Que desvio pode ser maior do que caluniar o próprio Centro do Convênio? Que desvio mais flagrante do que espalhar por toda parte declarações falsas e insensatas a respeito do Templo do Testamento de Deus? Qual desvio pode ser mais lastimável do que decretar a morte do Centro do Convênio, apoiando-se no sagrado versículo: “Se alguém pretender… antes de expirarem mil anos completos…”,1 enquanto que ele (Muḥammad-‘Alí), no tempo da Abençoada Beleza, sem qualquer pudor declarou semelhante pretensão e foi refutado por Ele da maneira acima mencionada, estando ainda existente o texto de sua pretensão, escrito de próprio punho e lacrado com seu próprio selo? Qual desvio pode ser mais completo do que acusar falsamente os amados de Deus? Qual desvio pode ser mais maléfico do que lhes causar prisão e encarceramento? Qual desvio pode ser mais grave do que entregar nas mãos do governo as Sagradas Escrituras e Epístolas, para que eles (o governo) talvez se levantassem, resolvidos a infligir morte a este injustiçado? Que desvio pode ser mais violento do que ameaçar de ruína a Causa de Deus, forjar e traiçoeiramente falsificar cartas e documentos com o fim de alarmar e perturbar o governo, e levá-lo a derramar o sangue deste injustiçado– estando tais cartas e documentos atualmente nas mãos do governo? Que desvio pode ser mais odioso do que sua iniquidade e rebelião? Que desvio pode ser mais vergonhoso do que dispersar a reunião do povo da salvação? Que desvio pode ser mais infame do que as fracas e vãs interpretações do povo da dúvida? Que desvio pode ser mais malicioso do que se unir, de mãos dadas, aos estranhos e inimigos de Deus?

Há poucos meses, juntamente com outros, aquele que rompeu o Convênio preparou um documento repleto de calúnias e difamação no qual, o Senhor o proíba, entre muitas acusações difamatórias semelhantes, figura uma em que ‘Abdu’l-Bahá é imputado como um inimigo mortal, que deseja mal à Coroa. A tal ponto perturbaram as mentes dos membros do Governo Imperial que, finalmente, um Comitê de Investigação foi mandado da sede do governo de Sua Majestade, o qual, violando todos os preceitos de justiça e equidade dignos de Sua Majestade Imperial, não, mais ainda, com a mais flagrante injustiça, procedeu às suas investigações. Os inimigos do Deus Uno e Verdadeiro cercaram-nos de todos os lados, explicando e ampliando excessivamente o texto do documento enquanto eles (os membros do comitê), por sua vez, concordaram cegamente. Uma de suas numerosas calúnias foi que este servo havia içado uma bandeira nesta cidade, convocado o povo à sua sombra, estabelecido para si próprio uma nova soberania, erigido sobre o Monte Carmelo uma poderosa fortaleza, aglomerado ao Seu redor todos os povos desta terra e os obrigado a lhe serem obedientes, causado dissidência na Fé do Islã e, Deus o proíba, feito um convênio com os seguidores de Cristo visando causar a mais grave ruptura no grande poder da Coroa. Que o Senhor nos proteja de mentiras tão atrozes!

Segundo o direto e sagrado comando de Deus, é-nos proibido pronunciar calúnias, incumbe-nos demonstrar paz e amizade, retidão de conduta, sinceridade e harmonia para com todas as raças e povos do mundo. Devemos obedecer ao governo do país e desejar seu bem, devemos considerar a deslealdade para com um rei justo como se fosse deslealdade para com o próprio Deus e a malevolência para com o governo como uma transgressão à Causa de Deus. Diante destas palavras decisivas e finais, como é possível que estes prisioneiros se entreguem a tais vãs fantasias? Encarcerados, como poderiam manifestar tamanha deslealdade? Mas, ai! O Comitê de Investigação aprovou e confirmou essas calúnias de meu irmão e dos malévolos, e as submeteu à presença de Sua Majestade, o Soberano. Agora, neste momento, uma violenta tempestade se enfurece ao redor deste prisioneiro que espera, seja favorável ou desfavorável, a benévola vontade de Sua Majestade, que o Senhor por Sua graça o ajude a ser justo! Em qualquer condição que esteja, com calma e tranquilidade absolutas, ‘Abdu’l-Bahá está pronto para o autossacrifício e inteiramente resignado e submisso à Sua Vontade. Que transgressão pode ser mais abominável, mais odiosa e maléfica que esta?

De igual modo, o Centro Focal do Ódio tinha como propósito a morte de ‘Abdu’l-Bahá, sendo isto provado pelo testemunho do próprio Mírzá Shu’á’u’lláh, aqui incluso. É evidente e incontestável que se ocupam, em segredo e com a maior sutileza, em conspirar contra mim. As seguintes são suas próprias palavras, por ele escritas nessa carta: “Amaldiçoo a todo momento aquele que ateou essa discórdia, imprecando nestas palavras: ‘Senhor, não tenhas compaixão dele.’ E espero que, dentro em breve, Deus torne manifesto aquele que não lhe tenha compaixão, que aparece agora em outras vestes e sobre quem não posso explicar mais.” Nestas palavras, faz ele referência ao sagrado versículo que começa do seguinte modo: “Antes de expirado um milênio completo, quem afirmar ser portador…”2 Refleti! Com que ansiedade intentam a morte de ‘Abdu’l-Bahá! Ponderai em vossos corações a frase “não posso explicar mais” e compreendei que intrigas estão tramando para este fim. Receiam que, se explicada plenamente e caindo em mãos inimigas, a carta poderia impedir e frustrar seus desígnios. A frase apenas prediz a vinda de boas-novas, a saber, que com relação a isso todas as medidas necessárias já haviam sido tomadas.

Ó Deus, meu Deus! Tu vês este Teu servo injustiçado, preso às garras de leões ferozes, de lobos vorazes, de feras sanguinárias. Misericordiosamente ajuda-me, por meu amor a Ti, a fim de que eu possa sorver profundamente do cálice que transborda de fidelidade a Ti e que está repleto de Tua Graça generosa; para que eu, caído sobre o pó, permaneça prostrado e esvaído, enquanto minhas vestes se tingem de carmesim com meu sangue. É este meu desejo, o anseio de meu coração, minha esperança, meu orgulho, minha glória. Permite, ó Senhor meu Deus e meu Refúgio, que em minha hora final, meu fim, semelhante ao almíscar, possa emitir sua fragrância de glória! Há alguma dádiva maior que esta? Não, por Tua Glória! Invoco-Te para dar testemunho de que não passa dia algum sem que eu beba abundantemente desse cálice, tão lastimosas são as más ações praticadas por aqueles que romperam o Convênio, provocaram discórdias, demonstraram sua malícia, instigaram sedição nesta terra e Te desonraram entre Teus servos. Senhor! Defende desses rompedores do Convênio a poderosíssima Fortaleza de Tua Fé e protege Teu Santuário secreto contra a investida dos ímpios. Tu és, em verdade, o Poderoso, o Potentíssimo, o Misericordioso, o Forte.

Em suma, ó vós amados do Senhor! O Centro de Sedição, Mírzá Muḥammad-‘Alí, segundo as decisivas palavras de Deus e por causa de sua ilimitada transgressão, caiu lastimavelmente e foi cortado da Árvore Sagrada. Em verdade, nós não os injuriamos, mas eles injuriaram a si mesmos!

Ó Deus, meu Deus! Guarda Teus servos fiéis contra os males do egoísmo e da paixão, protege-os com os olhos vigilantes da Tua benevolência, contra todo rancor, ódio e inveja, abriga-os na fortaleza inexpugnável de Teu cuidado e, imunes às setas da dúvida, torna-os manifestantes de Teus gloriosos Sinais, ilumina suas faces com os raios refulgentes emanados da Aurora de Tua Divina Unidade, alegra seus corações com os versículos revelados de Teu Santo Reino, fortalece-os com Teu poder, que a tudo estremece, vindo de Teu Domínio de Glória. Tu és o Todo-Generoso, o Protetor, o Onipotente, o Misericordioso!

Ó vós que permaneceis firmes no Convênio! Ao chegar a hora em que esta ave injustiçada e de asas partidas tenha alçado voo para o Concurso Celestial, quando ela houver se apressado para o Domínio do Invisível e seu corpo mortal tiver se perdido ou escondido sob o pó, incumbirá aos Afnán, que estão firmes no Convênio de Deus e que brotaram da Árvore da Santidade; às Mãos (pilares) da Causa de Deus (sobre elas esteja a glória do Senhor) e a todos os amigos e amados, a todos, sem exceção, despertarem e se levantarem de coração e alma e em comum acordo para difundir as doces fragrâncias de Deus, ensinar Sua Causa e disseminar Sua Fé. Não devem descansar, nem que seja por um momento, nem buscar repouso. Devem se dispersar por todas as terras, passar por todas as plagas e viajar através de todas as regiões. Despertos, infatigáveis, constantes até o fim, devem eles erguer em toda parte o brado triunfal: “Ó Tu, Glória das Glórias!” (Yá Bahá’u’l-Abhá), devem ganhar renome no mundo, aonde quer que forem, arder intensamente como uma vela em toda reunião e em toda assembleia devem acender a chama do amor divino; para que a luz da verdade possa surgir resplandecente no próprio coração do mundo e uma vasta assembleia, por todo o Oriente e todo o Ocidente, possa reunir-se à sombra do Verbo de Deus, a fim de que as doces fragrâncias da santidade possam ser difundidas, as faces brilhem radiantemente, os corações sejam imbuídos do espírito divino e as almas tornem-se celestiais.

Nestes dias, a mais importante de todas as coisas consiste em guiar as nações e os povos do mundo. Ensinar a Causa é da máxima importância, pois é a pedra angular do próprio alicerce. Este servo injustiçado passou os dias e as noites a promover a Causa e a exortar os povos ao serviço. Nem por um momento sequer pôde ele descansar, enquanto não difundisse pelo mundo a fama da Causa de Deus e clamasse ao Oriente e ao Ocidente as melodias celestiais do Reino de Abhá. Os amados de Deus também devem seguir este exemplo. Este é o segredo da fidelidade, este é o requisito da servitude ao Limiar de Bahá!

Os discípulos de Cristo esqueceram-se de si mesmos e de todas as coisas terrenas, abandonaram toda preocupação e tudo o que lhes pertencia, purificaram-se do egoísmo e da paixão e, com desprendimento absoluto, espalharam-se por toda parte, ocupando-se em chamar os povos do mundo para a Guia Divina, até que finalmente conseguiram transformar o mundo em outro mundo, iluminaram a face da terra e, até sua última hora, deram provas de sua abnegação no caminho d’Aquele Amado de Deus. E por fim, em diversas terras, sofreram martírio glorioso. Que os homens de ação sigam suas pegadas!

Ó meus amados amigos! Após o passamento deste injustiçado, incumbe aos Aghṣán (Ramos), aos Afnán (Brotos) do Loto Sagrado, às Mãos (pilares) da Causa de Deus e aos amados da Beleza de Abhá voltar-se a Shoghi Effendi– o jovem ramo que brotou dos Dois Lotos sagrados e santificados, o fruto da união dos dois rebentos da Árvore da Santidade– pois ele é o sinal de Deus, o ramo escolhido, o Guardião da Causa de Deus, aquele para quem devem se voltar todos os Aghṣán, os Afnán, as Mãos da Causa de Deus e Seus amados. É o intérprete da Palavra de Deus e a ele sucederá o primogênito de seus descendentes diretos.

O sagrado e jovem ramo, o Guardião da Causa de Deus, assim como a Casa Universal de Justiça, a ser eleita e estabelecida universalmente, estão ambos sob o amparo e a proteção da Beleza de Abhá, abrigados e guiados infalivelmente pelo Excelso (possa minha vida ser sacrificada por ambos). O que quer que decidam provém de Deus. Quem a ele não obedecer, nem a eles, não terá obedecido a Deus; quem se revoltar contra ele e contra eles, terá se revoltado contra Deus; quem se lhe opuser, terá feito oposição a Deus; quem com eles contender, terá contendido com Deus; quem disputar com ele, terá disputado com Deus; quem quer que o negue, terá negado a Deus; quem nele não acreditar, terá deixado de crer em Deus; quem se desviar, separar-se e afastar-se dele, em verdade, ter-se-á desviado, separado e afastado de Deus. Que a ira, a violenta indignação, a vingança de Deus caiam sobre tal homem! A poderosíssima fortaleza há de se conservar segura e inexpugnável através da obediência àquele que é o Guardião da Causa de Deus. Incumbe aos membros da Casa de Justiça, a todos os Aghṣán, Afnán, Mãos da Causa de Deus, mostrar sua obediência, submissão e subordinação ao Guardião da Causa de Deus, dirigiremse a ele e serem humildes em sua presença. Aquele que se lhe opuser, terá feito oposição ao Verdadeiro, criará cisma na Causa de Deus, subverterá Sua Palavra e se tornará uma manifestação do Centro da Sedição. Acautelaivos, acautelai-vos, para que não se repitam os dias após a ascensão (de Bahá’u’lláh), quando o Centro da Sedição tornou-se arrogante e rebelde e, tomando por pretexto a Unidade Divina, privou-se e perturbou e envenenou os outros. Não resta dúvida de que o jactancioso que pretender criar dissensão e discórdia não declarará abertamente suas más intenções, mas, ao contrário, semelhante ao ouro impuro, usará de diversas medidas e vários pretextos de modo a desfazer a união do povo de Bahá. É meu objetivo demonstrar que as Mãos da Causa de Deus devem estar sempre vigilantes e, logo que descubram estar alguém começando a se opor e a protestar contra o Guardião da Causa de Deus, devem expulsá-lo da congregação do povo de Bahá e de modo algum aceitar dele qualquer desculpa. Quão frequentemente o erro lastimável tem-se disfarçado nas vestes da verdade, a fim de lançar as sementes da dúvida nos corações dos homens!

Ó vós, amados do Senhor! Incumbe ao Guardião da Causa de Deus designar durante sua vida quem deve ser seu sucessor, para que não surjam divergências após seu passamento. O designado deve manifestar em seu caráter desprendimento de todas as coisas deste mundo, deve ser a essência da pureza e em si mostrar temor a Deus, conhecimento, sabedoria e erudição. Se, portanto, o primogênito do Guardião da Causa de Deus não manifestar em sua pessoa a verdade das palavras: “A criança é a essência secreta de seu progenitor”, isto é, se não herdar a espiritualidade inerente (ao Guardião da Causa de Deus) e não corresponder, com um caráter digno, à sua gloriosa linhagem, então ele (o Guardião da Causa de Deus) deverá escolher outro ramo para ser seu sucessor.

As Mãos da Causa de Deus devem eleger nove pessoas de seu próprio seio, as quais se ocuparão continuamente com os importantes serviços a cargo do Guardião da Causa de Deus. A eleição destas nove pessoas deve ser feita unanimemente ou por maioria, dentre a companhia das Mãos da Causa de Deus, e estas, quer seja por unanimidade, quer por maioria, devem aprovar a escolha daquele a quem o Guardião da Causa de Deus escolhera como seu sucessor. Essa aprovação deve ser dada de tal modo que os votos prós e contras não se distingam (isto é, por voto secreto).

Ó amigos! As Mãos da Causa de Deus devem ser nomeadas e apontadas pelo Guardião da Causa de Deus. Todas devem estar à sua sombra e obedecer a seu imperativo. Se alguém, seja dentro ou fora do grupo das Mãos da Causa de Deus, desobedecer e tentar causar divisão, a ira de Deus e Sua vingança cairão sobre tal pessoa, pois terá causado cisma na verdadeira Fé Divina.

As obrigações das Mãos da Causa de Deus consistem em difundir as Fragrâncias Divinas, edificar as almas dos homens, promover a erudição, aperfeiçoar o caráter de todos os homens e ser, em todos os tempos e sob quaisquer condições, santificadas e desprendidas das coisas terrenas. Pela sua conduta, pelas suas maneiras, suas palavras e suas ações, devem elas manifestar temor a Deus.

Esse corpo das Mãos da Causa de Deus está sob a direção do Guardião da Causa de Deus. Ele deve continuamente exortá-las a se esforçarem, o máximo que lhes for possível, para difundir as doces fragrâncias divinas e guiar todos os povos do mundo, pois é a luz da Guia Divina que faz com que todo o universo seja iluminado. De modo algum é permissível, nem por um momento sequer, deixar de obedecer a este mandamento absoluto, obrigatório para todos, pois é o meio de transformar o mundo existente no Paraíso de Abhá, tornar celestial a face da terra, fazer desaparecer o conflito entre os seres humanos, raças, nações e governos, e para que todos os habitantes da terra possam se tornar um só povo, uma só raça, e o mundo, um lar. Caso surjam divergências, deverão estas ser ajustadas, amigável e concludentemente, pelo Tribunal Supremo que deverá incluir representantes de todos os governos e povos do mundo.

Ó vós, amados do Senhor! Nesta sagrada Dispensação, o conflito e a contenda de modo algum são permitidos. Todo agressor priva-se das graças de Deus. Incumbe a cada um demonstrar o máximo grau de amor, retidão de conduta, sinceridade e verdadeira benevolência para com todos os povos e raças do mundo, sejam amigos ou estranhos. Tão intenso deve ser o espírito de amor e bondade que o estranho se possa sentir um amigo, o inimigo, um verdadeiro irmão, não existindo entre eles qualquer diferença, pois a universalidade é divina e toda limitação, terrena. Portanto, deve o homem esforçar-se para que sua realidade manifeste virtudes e perfeições cuja luz irradie sobre todos. A luz do sol brilha sobre o mundo inteiro e as chuvas misericordiosas da Providência Divina caem sobre todos os povos. A brisa vivificadora anima toda criatura vivente e todos os seres dotados de vida obtêm seu quinhão à Sua mesa celestial. De igual modo, o afeto e a benevolência daqueles que servem ao Deus Uno e Verdadeiro devem-se estender generosa e universalmente a todo o gênero humano. A esse respeito, não se pode, em absoluto, permitir qualquer restrição ou limitação.

Deveis, pois, ó meus amorosos amigos, associar-vos a todos os povos, a todas as raças e religiões do mundo com a maior sinceridade, retidão, fidelidade, benevolência, boa vontade e amizade para que todo o mundo existente receba copiosamente o santo êxtase das graças de Bahá e assim se desvaneçam do mundo a ignorância, a inimizade, o ódio e o rancor, e a escuridão da desconfiança entre as nações e raças ceda lugar à Luz da Unidade. Se membros de outros povos e nações vos forem infiéis, mostrai-lhes vossa fidelidade; se vos forem injustos, tratai-os com justiça; se afastarem-se de vós, procurai atraí-los; se vos mostrarem inimizade, sede amigos para com eles; se envenenarem vossas vidas, adoçai suas almas; se vos ferirem, sede um bálsamo para suas feridas. Tais são os atributos dos sinceros! Tais são os atributos daqueles que dizem a verdade.

E agora, com referência à Casa de Justiça que Deus ordenou como a fonte de todo o bem e isenta de todo o erro, esta deve ser eleita por sufrágio universal, isto é, pelos crentes. Seus membros devem ser manifestações do temor a Deus e auroras do conhecimento e da compreensão; devem ser constantes na Fé Divina e benévolos para com toda a humanidade. Entende-se por esta Casa, a Casa Universal de Justiça, isto é, em todos os países uma Casa de Justiça secundária deve ser instituída e estas Casas de Justiça secundárias devem eleger os membros da Casa Universal. A esta se devem submeter todas as questões. Esta Casa fará todas as leis e todos os regulamentos que não foram previstos explicitamente no Texto Sagrado. Por este corpo, todos os problemas difíceis serão resolvidos e o Guardião da Causa de Deus é seu sagrado dirigente e distinto membro perpétuo. Caso não esteja pessoalmente em todas as deliberações, ele deve nomear alguém para representá-lo. Se qualquer membro cometer um erro prejudicial ao bem comum, ficará a critério do Guardião da Causa de Deus a expulsão desse membro, para cujo lugar, neste caso, as pessoas deverão eleger outro. Esta Casa de Justiça decreta as leis e o governo tem a seu cargo fazer cumpri-las. O corpo legislativo deve reforçar o executivo e este, por sua vez, deve apoiar e auxiliar o legislativo, de modo que, pela estreita união e harmonia dessas duas forças, as bases da retidão e justiça tornem-se fortes e firmes e, assim, todas as regiões do mundo se transformem no próprio Paraíso.

Ó Senhor, meu Deus! Ajuda aqueles que Te amam a permanecerem firmes em Tua Fé, a prosseguirem em Teus caminhos e serem constantes em Tua Causa. Dispensa-lhes Tua graça, para que resistam à investida do ego e da paixão, e se guiem pela luz da Guia Divina. Tu és o Poderoso, o Benévolo, O que subsiste por Si próprio, o Magnânimo, o Compassivo, o Onipotente, a Suprema Bondade.

Ó amigos de ‘Abdu’l-Bahá! Como sinal de Suas infinitas graças, o Senhor favoreceu Seus servos benevolamente, determinando uma oferta fixa em dinheiro (Ḥuqúq) a ser-Lhe apresentada como um dever, embora Ele, o Verdadeiro, e Seus servos, em todos os tempos, tenham sido independentes de todas as coisas criadas, e Deus é, em verdade, o Possuidor de tudo, exaltado acima da necessidade de qualquer dádiva oferecida por Suas criaturas. Tal oferta fixa em dinheiro, no entanto, torna o povo firme e constante, e lhes traz o acréscimo divino. Deve ser feita por intermédio do Guardião da Causa de Deus, para que seja aplicada na difusão das Fragrâncias Divinas e na exaltação da Sua Palavra, para fins benévolos e o bem-estar comum.

Ó vós, amados do Senhor! Incumbe-vos ser submissos a todos os monarcas que sejam justos e mostrar fidelidade a todo rei virtuoso. Servi aos soberanos do mundo com a máxima sinceridade e lealdade. Prestai-lhe obediência e desejai o seu bem. Sem sua licença e permissão, não vos intrometais em assuntos políticos, porque a deslealdade ao soberano justo é deslealdade ao próprio Deus.

É esse meu conselho e é o que Deus vos ordena. Bem-aventurados aqueles que assim agem!

(Por muito tempo este manuscrito havia sido guardado debaixo da terra, sendo assim afetado pela umidade. Ao ser trazido à luz, observou-se que certos trechos se mostravam danificados pela umidade, mas foram deixados intocados, já que a Terra Santa encontrava-se dolorosamente imersa em agitações.)


Segunda Parte

Ele É Deus

Ó meu Senhor, Anelo do meu coração, Tu a Quem sempre invoco, Tu que és meu Auxiliador e meu Amparo, meu Sustentáculo e meu Refúgio! Vês que estou submerso em um oceano de calamidades que me acabrunham a alma, de aflições que me oprimem o coração, de tribulações que estão dispersando aqueles que Tu reuniste, de vicissitudes e dores que põem em debandada Teu rebanho. Cercam-me lastimáveis provações, enquanto de todos os lados há perigos que me assediam. Tu me vês imerso em um mar de tribulações inexcedíveis, mergulhado em um abismo insondável, perseguido por meus inimigos e consumido pela chama de seu ódio, chama esta acesa por meus parentes com quem fizeste Teu poderoso Convênio e firme Testamento, no qual ordena-lhes que volvam seus corações a este oprimido, que afastem de mim os insensatos e os injustos, e que consultem este solitário a respeito de tudo aquilo, em Teu Sagrado Livro, sobre o que possa haver divergência, a fim de que a Verdade se lhes revele, as dúvidas se desvaneçam e Teus Sinais manifestos sejam largamente difundidos.

Agora, no entanto, ó Senhor, meu Deus, com Teus olhos que não dormem, vês que viraram as costas para Teu Convênio e o violaram, desviando-se de Teu Testamento, com ódio e deslealdade, e que se levantaram intentando malícia.

Ainda mais severas tornaram-se as adversidades à medida que se ergueram, com crueldade insuportável, para me derrotar e me esmagar, enquanto difundiam por toda parte seus pergaminhos de dúvidas, lançando sobre mim calúnias inteiramente falsas. Ó meu Deus! Seu chefe, não satisfeito com isto, atreveu-se a interpolar Teu Livro, a alterar fraudulentamente Teu decisivo Texto Sagrado e falsificar o que fora revelado pela Tua Pena Toda-Gloriosa. E também o que Tu revelaste para aquele que perpetrou atos da mais flagrante crueldade contra Ti, que desacreditou em Ti e negou Teus maravilhosos Sinais– isso ele inseriu maliciosamente naquilo que Tu revelaste para este Teu servo, oprimido neste mundo. Tudo isto ele fez a fim de enganar as almas dos homens e insuflar seus maus sussurros nos corações dos Teus devotos. Isto o segundo chefe deles testificou, confessando-o de próprio punho, lacrando-o com seu selo e o difundindo por todas as regiões. Ó meu Deus! Poderia haver injustiça mais lamentável do que esta? Nem assim descansaram, mas ainda envidaram esforços com obstinação, mentiras e falsas imputações, com escárnio e calúnia, a fim de incitarem sedição no seio do governo desta terra e em outras partes, fazendo com que me julgassem semeador de sedição e instilando nas mentes aquilo que os ouvidos repugnam ouvir. O governo ficou assim alarmado, enchendo de medo o soberano e incitando suspeitas entre os nobres. Mentes foram confundidas, assuntos foram desvirtuados, almas foram perturbadas, o fogo da angústia e tristeza foi ateado dentro dos peitos, as Folhas Sagradas (da Família) foram abaladas e convulsionadas, vertendo lágrimas dos seus olhos, enquanto seus suspiros e lamentos se faziam ouvir e seus corações ardiam dentro delas ao chorar por este Teu servo oprimido, caído vítima nas mãos desses, seus parentes, não, seus próprios inimigos!

Senhor! Tu vês todas as coisas lamentarem-se por mim, enquanto parentes meus rejubilam-se com minhas tribulações. Por Tua Glória, ó meu Deus! Até mesmo entre meus inimigos houve quem lamentasse as minhas provações e angústias e, entre os invejosos, alguns verteram lágrimas por causa da minha inquietação, do meu exílio e das minhas aflições. E isso fizeram por nada haverem encontrado em mim senão afeto e dedicação, nada testemunhado senão bondade e misericórdia. Quando me viram levado pela correnteza das tribulações e adversidades, e exposto como alvo às setas do destino, seus corações foram tocados pela compaixão, seus olhos encheram-se de lágrimas e eles deram testemunho, declarando: “O Senhor é nossa testemunha; nada vimos nele a não ser fidelidade, generosidade e extrema compaixão.” Os rompedores do Convênio, contudo, pressagiadores do mal, cresceram mais ferozmente em seu rancor, rego zijaram-se quando caí vítima da mais penosa provação, tramaram contra mim e se divertiram com os dolorosos acontecimentos que me envolveram.

Ó Senhor, meu Deus! Invoco-Te com minha língua e de todo o coração, não os castigueis por sua crueldade e más ações, por suas malícias e perversidades, pois eles são insensatos e ignóbeis, e não sabem o que fazem. Não discernem o bem do mal, nem distinguem o certo do errado, nem a justiça da injustiça. Seguem seus próprios desejos e andam nas pegadas dos mais imperfeitos e insensatos em seu meio. Ó meu Senhor! Tem piedade deles, protege-os de qualquer aflição nesses tempos de dificuldades e permite que todas as provações e sofrimentos sejam destinados a este Teu servo, caído nesta cova tenebrosa. Torna-me alvo de todas as penas e faze de mim um sacrifício por todos os Teus amados! Ó Senhor, Altíssimo! Seja minh’alma, minha vida, meu ser, meu espírito– tudo, oferecido em holocausto por eles! Ó Deus, meu Deus! Humilde, suplicante e prostrado diante de Ti, imploro-Te, com todo o ardor de minha invocação, que perdoes a quem quer que me tenha injuriado, que absolvas aquele que conspirou contra mim e me ofendeu, e apagues as más ações daqueles que foram injustos para comigo. Concede-lhes Tuas dádivas bondosas, torna-os alegres, alivia-os de sua dor, concede-lhes paz e prosperidade, dá-lhes Tua bênção e derrama sobre eles Tua generosidade!

Tu és o Poderoso, o Benévolo, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si próprio!

Ó amigos ternamente amados! Estou agora em grande perigo e a esperança de até mesmo uma só hora de vida está perdida para mim. Sinto-me, pois, obrigado a escrever estas linhas para a proteção da Causa de Deus, a preservação de Sua Lei, a salvaguarda de Sua Palavra e a proteção de Seus Ensinamentos. Pela Antiga Beleza! Este injuriado jamais alimentou nem alimenta rancor, de modo algum, contra qualquer pessoa; para com ninguém nutre ele qualquer malevolência e nenhuma palavra pronuncia que não seja para o bem do mundo. Minha suprema obrigação, no entanto, impele-me forçosamente a guardar e preservar a Causa de Deus. Assim, com o maior pesar, aconselho-vos, dizendo: Guardai a Causa de Deus, protegei Sua Lei e tende receio profundo de qualquer discórdia. É esse o fundamento da crença do povo de Bahá (possa minha vida ser sacrificada por eles): “Sua Santidade, o Excelso (o Báb), é o Manifestante da Unidade e da Unicidade Divinas e o Precursor da Antiga Beleza. Sua Santidade, a Beleza de Abhá (possa minha vida ser um sacrifício por Seus amigos fiéis), é o Supremo Manifestante de Deus e a Aurora de Sua Mais Divina Essência. Todos os demais são Seus servos e fazem o que Ele ordena.” Ao Livro Sacratíssimo todos devem se voltar e qualquer coisa que nele não esteja expressamente tratada deve ser referida à Casa Universal de Justiça. Aquilo que este corpo resolver, seja por unanimidade ou por maioria, será realmente a Verdade e a expressão da própria Vontade Divina. Qualquer um que divirja disso é, em verdade, dos que amam a discórdia, demonstra malícia e se afasta do Senhor do Convênio. Por esta Casa entende-se aquela Casa Universal de Justiça a ser eleita dentre todos os países, isto é, daquelas partes do Oriente e do Ocidente em que se encontrem os amados, segundo o método usual das eleições nos países ocidentais como a Inglaterra.

Incumbe a esses membros (da Casa Universal de Justiça) reunirem-se em um determinado lugar e deliberar sobre quaisquer problemas que tenham causado divergências, sobre questões obscuras e assuntos não expressamente tratados no Livro. Qualquer decisão tomada por eles terá o mesmo efeito do próprio Texto. E já que essa Casa de Justiça tem o poder de decretar leis relativas às transações diárias– leis que não estejam expressamente registradas no Livro– assim, cabe-lhe também o poder de revogá-las. Por exemplo, a Casa de Justiça decreta hoje certa lei e a põe em vigor, e daqui a cem anos, havendo as circunstâncias mudado radicalmente, sendo outras as condições, a Casa de Justiça de então terá o poder de alterar aquela anterior de acordo com as exigências do tempo. Poderá fazer isso porque a referida lei não faz parte do explícito Texto Divino. A Casa de Justiça é tanto a promulgadora como a anuladora de suas próprias leis.

E agora, um dos maiores e mais fundamentais princípios da Causa de Deus é a necessidade de se afastar e evitar inteiramente os rompedores do Convênio, pois eles destruirão totalmente a Causa de Deus, exterminarão a Sua Lei e tornarão nulos todos os esforços despendidos no passado. Ó amigos! Incumbe-vos recordar com ternura as tribulações de Sua Santidade, o Excelso, e demonstrar vossa fidelidade à Sempre-Abençoada Beleza. Deve-se fazer o máximo esforço para que não provem ter sido improfícuas todas essas angústias, tribulações e aflições, para que não tenha sido em vão todo esse sangue puro e sagrado tão profusamente derramado no Caminho de Deus. Bem sabeis o que perpetraram as mãos do Centro de Sedição, Mírzá Muḥammad-ʻAlí, e seus associados. Um de seus atos foi a corrupção do Texto Sagrado, do qual vós todos estais cientes, sabendo, louvado seja o Senhor, que se acha evidente, provado e confirmado pelo testemunho de seu irmão, Mírzá Badíʻuʼlláh, cuja confissão está escrita de próprio punho, tendo seu selo, e foi impressa e largamente difundida. Este é apenas um de seus atos maus. Pode-se imaginar uma transgressão mais flagrante do que esta, a interpolação do Texto Sagrado? Não, pela justiça do Senhor! Suas transgressões estão escritas e registradas em um folheto separado. Queira Deus, vós o examinareis.

Em resumo, segundo o explícito Texto Divino, a menor transgressão fará desse homem uma criatura arruinada, e qual transgressão mais lastimável do que a de tentar destruir a Edificação Divina, romper o Convênio, desviar-se do Testamento, falsificar o Texto Sagrado, disseminar as sementes da dúvida, caluniar ‘Abdu’l-Bahá, apresentar pretensões para as quais Deus não deu autorização, incitar distúrbios, envidar esforços para derramar o próprio sangue de ‘Abdu’l-Bahá e muitas outras coisas das quais vós todos estais cientes! Torna-se assim evidente que, se esse homem conseguir trazer desunião para a Causa de Deus, ele a destruirá completamente e a exterminará. Guardai-vos de vos aproximardes desse homem, pois aproximar-se dele é pior do que se aproximar do fogo!

Deus Misericordioso! Após haver Mírzá Badíʼuʼlláh declarado de próprio punho que esse homem (Muḥammad-ʻAlí) rompera o Convênio e proclamara sua falsificação do Texto Sagrado, ele percebeu que retornar à Fé Verdadeira e prestar lealdade ao Convênio e Testamento de modo algum promoveriam seus próprios desejos egoístas. Assim, ele se arrependeu e deplorou o que fizera, tentou secretamente recolher suas confissões impressas e contra mim tramou maliciosamente com o Centro de Sedição, informando-lhe diariamente todos os acontecimentos em meu lar. Até mesmo teve destacada participação nos atos perniciosos que foram recentemente cometidos. Louvado seja Deus, a situação recuperou sua estabilidade anterior e os amados amigos alcançaram uma paz parcial. Não obstante, desde o dia em que ele entrou de novo em nosso meio, começou outra vez a espalhar as sementes da mais lastimável sedição. Algumas de suas maquinações e intrigas serão registradas em folheto separado.

É meu propósito, entretanto, mostrar que incumbe aos amigos constantes e firmes no Convênio e Testamento manterem-se sempre despertos para que, após o passamento deste injuriado, esse ativo e enérgico perpetrador de más ações não possa causar desunião, espalhar secretamente as sementes da dúvida e sedição, e extirpar completamente a Causa de Deus. Mil vezes evitai sua companhia. Sede atentos e vigilantes. Observai e examinai; se qualquer pessoa, seja aberta ou secretamente, tiver a menor associação com ele, expulsai-a de vosso meio, pois esta haverá certamente de causar desunião e prejuízo.

Ó vós, amados do Senhor! Empenhai-vos de todo coração em proteger a Causa de Deus das investidas dos insinceros, pois tais almas torcem o que é reto e tornam contrários os resultados dos mais benévolos esforços.

Ó Deus, meu Deus! Invoco a Ti, Teus Profetas e Teus Mensageiros, Teus Santos e Teus Santificados para que deem testemunho de haver eu declarado Tuas Provas concludentemente aos Teus amados e lhes exposto com clareza todas as coisas, a fim de que possam zelar por Tua Fé, guardar Teu Caminho Reto e proteger Tua Lei Resplandecente. Tu és, em verdade, o Onisciente, o Sapientíssimo!


Terceira Parte

Ele É a Testemunha, O Todo-Suficiente

Ó meu Deus, meu Bem-Amado, Desejo do meu coração! Tu sabes, Tu vês o que sobreveio a este servo Teu, que se humilhou diante de Tua Porta, e conheces os pecados cometidos contra ele pelo povo da malícia, aqueles que violaram Teu Convênio e voltaram as costas para Teu Testamento. Durante o dia, afligiram-me com as setas do ódio e à noite, conspiraram secretamente a fim de me prejudicar. Ao amanhecer, cometeram o que causou lamentos ao Concurso Celestial e, ao anoitecer, desembainharam contra mim a espada da tirania e, na presença dos ímpios, lançaram sobre mim seus dardos da calúnia. Não obstante suas más ações, este Teu humilde servo manteve-se paciente, suportando toda aflição e provação de suas mãos, embora por meio de Tua força e Teu poder ele pudesse ter destruído suas palavras, apagado seu fogo e detido a chama de sua rebeldia.

Tu vês, ó meu Deus, como minha paciência, tolerância e silêncio aumentaram sua crueldade, sua arrogância e seu orgulho. Por Tua Glória, ó Bem-Amado! Desacreditaram em Ti e se rebelaram contra Ti, de tal modo que não me deixaram um momento sequer de repouso e tranquilidade para que eu pudesse me levantar, digna e apropriadamente, a fim de exaltar Tua Palavra entre a humanidade e pudesse servir em Teu Limiar de Santidade com o coração transbordando com o júbilo dos habitantes do Reino de Abhá.

Senhor! Minha taça de angústia transborda e de todos os lados atacam-me golpes enfurecidos. Os dardos da aflição me envolveram e as setas do sofrimento choveram sobre mim. Assim a tribulação me acabrunhou e minha força, diante da investida dos inimigos, converteu-se em fraqueza dentro de mim, enquanto fiquei só e abandonado em meio às minhas vicissitudes. Senhor! Tem compaixão de mim, faze-me subir a Ti próprio e permite-me sorver do Cálice do Martírio, pois o mundo, com toda sua vastidão, não mais me pode conter.

Tu és, em verdade, o Misericordioso, o Compassivo, o Generoso, a Suma Bondade!

Ó vós, os verdadeiros, sinceros e fiéis amigos deste injustiçado! Todos sabem e acreditam que calamidades e aflições sobrevieram a este oprimido, este prisioneiro, nas mãos daqueles que violaram o Convênio no tempo em que, após o pôr do Sol do Mundo, seu coração fora consumido pela chama de sua perda.

Quando, em todas as partes da terra, os inimigos de Deus, aproveitando a ocasião do passamento do Sol da Verdade, lançaram seu ataque subitamente e com todas as suas forças; nesse tempo e em meio a tão grande calamidade, os rompedores do Convênio levantaram-se com extrema crueldade, resolvidos a causar dano e incitar um espírito de inimizade. A todo momento cometeram uma má ação e se empenharam em espalhar as sementes da mais lastimável sedição e arruinar a estrutura do Convênio. Mas este injustiçado, este prisioneiro, fez o possível para encobrir e velar suas ações, para que talvez lastimassem e se arrependessem. Sua paciência e tolerância em face dessas más ações, porém, tornaram os rebeldes ainda mais arrogantes e atrevidos; até que, por meio de folhetos escritos de próprio punho, espalharam as sementes da dúvida, imprimindo estes folhetos e os difundindo largamente pelo mundo inteiro, convictos de que, com tais tolices, pudessem invalidar o Convênio e o Testamento.

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