Seleção dos Escritos de ‘Abd'u’l-bahá
Category: Bahá’í
10:57 h
Compilado pelo Departamento de Pesquisa da Casa Universal de Justiça - Centro Mundial Bahá’í Tradução de Leonora Armstrong, Peiman Milani e Luis Henrique Beust Título original: Selections from the Writings of ‘Abdu’l-Bahá Copyright ( 1978: The Universal House of Justice Direitos reservados sob a Convenção de Berna) Copyright desta edição ( 1993: Assembléia Espiritual Nacional dos Bahá’ís do Brasil Traduzido para o inglês por um Comitê no Centro Mundial Bahá’í e por Marzieh Gail Elaboração das Notas adicionais às da edição em inglês: Peiman Milani e Luis Henrique Beust
Seleção dos Escritos de ‘Abd‘u’l-Bahá

“Ele é - e para todo o sempre deve assim ser considerado - primeiro e acima de tudo, o Centro e Eixo do incomparável e todo abrangente Convênio de Bahá’u’lláh, Sua mais exaltada obra, o imaculado Espelho de Sua Luz, o perfeito Exemplar de Seus ensinamentos, o infalível Intérprete de Sua Palavra, a encarnação de todos os ideais e virtudes bahá’ís, o Mais Poderoso Ramo nascido da Raiz Antiga, o Sustentáculo da lei de Deus, o Ser “em torno de nomes”, o Manancial da Unidade do Gênero Humano, o Porta-estandarte da Paz Máxima,
a Lua do Orbe Central desta mais sagrada Revelação…”
Texto de Shoghi Effendi, o Guardião da Bahá’í

Prefácio

A exposição que ‘Abdu’l-Bahá fez da Revelação Bahá’í acha-se reunida em três espécies de texto: Suas obras escritas, as muitas compilações dos pronunciamentos Seus que foram registrados, e Sua correspondência. As obras por Ele redigidas, tais como The Secret of Divine Civilization, A Traveller’s Narrative e a Última Vontade e Testamento foram traduzidas para o inglês. Do mesmo modo, muitas compilações de Seus pronunciamentos registrados - entre as quais se poderiam mencionar O Esplendor da Verdade, Memorials of the Faithful, Palestras em Paris - estão permanentemente disponíveis em edições inglesas. Durante sessenta anos, porém, não se fez nenhuma coletânia, em inglês, de suas inumeráveis cartas; os três volumes de Tablets of ‘Abdu’l-Bahá, publicados nos Estados Unidos entre 1909 e 1916, apesar de reimpressos mais tarde, muito estão esgotados.

Esta compilação busca constituir uma seleção muito mais ampla que a feita na elaboração daqueles antigos volumes; seu exame dará noção da vasta gama de assuntos que o Mestre tratava em Sua correspondência. Incluem-se várias Epístolas traduzidas por um Comitê no Centro Mundial, que partiu de antigos rascunhos de Shoghi Effendi feitos ainda durante o ministério de ‘Abdu’l-Bahá. Figura também na compilação um grande número de Epístolas vertidas pela Sra. Marziéh Gail, as quais lhe foram remetidas da coleção de mais de 19.000 cópias originais e autenticadas do Centro Mundial. Algumas Epístolas famosas, como a correspondência com Auguste Forel e a maior parte da Epístola a Haia, foram omitidas, que podem ser encontradas em publicações separadas.

As felizes e abençoadas almas contempladas com a grande maioria das Epístolas aqui coligidas eram os primeiros crentes do Oriente e do Ocidente - indivíduos, grupos, comissões ou assembléias organizadas dos amigos; assim, é impossível sobreestimar o valor dessas palavras sagradas para as comunidades nascentes do Ocidente naqueles dias em que a literatura bahá’í em inglês era extremamente escassa.

Crê-se que a publicação destes escritos do Mestre servirão para intensificar, no coração de quantos O amam, o fervor de responderem a Seu chamado, bem como contribuirão para uma melhor percepção da maravilhosa harmonia entre o humano e o divino da qual Ele, o Mistério de Deus, foi tão perfeito exemplar.

Referências Ao Alcorão

Nas notas concernentes ao Alcorão, as suras foram numeradas de acordo com a original, ao passo que os números dos versículos são os usados na versão de Rodwell, vez por outra, dos texto árabe.

1

Ó povos do mundo! O Sol da Verdade surgiu a fim de iluminar toda a Terra e espiritualizar a comunidade do homem. Louváveis são seus resultados - sem frutos - e abundantes as santas evidências que desta graça derivam. Isso é misericórdia genuína e a mais pura generosidade; é luz para o mundo e todos seus povos; é harmonia e companheirismo, amor e solidariedade; é, em verdade, compaixão e unidade e o fim do desamor; é a unificação de todos na Terra, em completa dignidade e liberdade.

Diz a Abençoada Beleza: “Todos vós sois os frutos de uma árvore, as folhas do mesmo ramo”. Assim Ele equiparou este mundo existente a uma única árvore e todos os povos às folhas dessa árvore, às flores e frutos. É necessário que o ramo floresça e a folha e o fruto medrem, e da interconexão de todas as partes dessa árvore - o mundo - é que depende o viço da folha e da flor, e a doçura do fruto.

Por esta razão devem todos os seres humanos apoiar vigorosamente um ao outro e buscar a vida eterna; por esta razão aqueles que amam a Deus devem tornar-se, neste mundo contingente, as graças e bênçãos dispensadas por aquele Rei clemente dos domínios visíveis e invisíveis. Que purifiquem a vista e vejam todos os seres humanos como as folhas, as flores e os frutos da árvore da existência. Que em todas as oportunidades ocupem-se em fazer algo de bom para algum de seus semelhantes, e ofereçam amor, consideração e ajuda atenciosa a alguma pessoa. Que a ninguém vejam como inimigo ou como pessoa que lhes quer mal, e sim pensem em toda a humanidade como amigos; que tenham o estranho por pessoa íntima, o desconhecido por companheiro, e mantenham-se livres do preconceito, sem construir barreira alguma.

Neste dia, é estimado no Limiar do Senhor quem oferece o cálice da fidelidade àqueles que estão ao redor; quem confere, até mesmo aos inimigos, a jóia da generosidade; e quem até mesmo ao opressor caído estende a mão em auxílio; é quem vier a ser amigo amoroso do mais violento adversário. São estes os Ensinamentos da Abençoada Beleza, estes os conselhos do Maior Nome.

Ó vós, queridos amigos! O mundo está em guerra e a espécie humana está em tribulação e combate mortal. A noite tenebrosa do ódio prevalece e a luz da boa extinguiu-se. Os povos e raças da Terra afiaram as garras e estão a arremessar-se uns contra os outros. É o próprio alicerce da espécie humana que está sendo destruído. São milhares as famílias errantes e desapossadas, e cada ano milhares e milhares de seres humanos a contorcer-se, banhados no próprio sangue vital em empoeirados campos de batalha. As tendas da vida e da alegria foram derrubadas. Os generais põem em prática suas táticas, jactando-se do sangue que derramaram, rivalizando-se mutuamente no estímulo à violência. “Com esta espada”, diz um deles, “eu decapitei um povo inteiro!” E outro exclama: “Eu fiz vir abaixo uma nação!” E ainda outro: “Eu fiz cair um governo!” De tais coisas vangloriam-se os homens, tais as coisas das quais se envaidecem! O amor, a retidão - estes são em toda parte censurados, ao mesmo tempo em que a harmonia e a devoção à verdade são desprezadas.

A da Abençoada Beleza convoca o gênero humano à segurança e ao amor, à amizade e à paz; ergueu seu tabernáculo nas alturas da Terra e dirige o chamado a todas as nações. Portanto, ó vós que amais a Deus, reconhecei o valor desta preciosa Fé, obedecei-lhe os ensinamentos, segui nesta estrada traçada em linha reta e mostrai ao povo este caminho. Levantai as vozes e cantai a canção do Reino. Difundi em toda parte os preceitos e conselhos do Senhor amoroso, de modo que este mundo se transforme em outro mundo, esta terra sombria inunde-se de luz e o corpo morto da humanidade levante e viva; para que toda alma suplique pela imortalidade, através dos sagrados sopros de Deus.

Em breve, vossos dias, que velozmente passam, terão findado, e a fama e as riquezas, os confortos e os deleites proporcionados por este monte de lixo, o mundo, terão desaparecido sem deixar traço sequer. Convocai o povo, pois, a Deus, e convidai a humanidade a seguir o exemplo da Companhia do alto. Sede pais amorosos para o órfão, e refúgio para o desamparado, e tesouro para o pobre, e cura para o enfermo. Sede os que auxiliam toda vítima de opressão e que protegem os desafortunados. Buscai, em todos os tempos, prestar algum serviço a todo membro do gênero humano. Não atenteis para a aversão e a rejeição, para o desdém, a hostilidade e a injustiça; agi do modo contrário. Sede sinceramente bondosos, não apenas na aparência. Que cada um dos bem-amados de Deus concentre a atenção nisto: ser a personificação da misericórdia do Senhor ao homem, ser a graça do Senhor. Que faça algum bem a toda pessoa com quem cruza no caminho e seja-lhe de algum benefício. Que aprimore o caráter de cada um e nova orientação às mentes dos homens. Desta maneira, a luz da guia divina irradiar-se-á e as bênçãos de Deus abrigarão toda a humanidade; pois o amor é luz, não importa em que morada habite, e o ódio é escuridão onde quer que faça seu ninho. Ó amigos de Deus! Para que o Mistério oculto possa ser manifesto, e a essência secreta de todas as coisas para revelar-se, esforçai-vos por banir essa escuridão para todo o sempre.

2

Ó meu Senhor! De Ti me aproximei nas profundezas desta noite tenebrosa, confiei em Ti com a língua de meu coração, trêmulo de júbilo ao perceber as doces fragrâncias que manam de Teu reino, o Todo-Glorioso, e a Te invocar, dizendo:

Ó Meu Senhor, palavras não encontro para Te glorificar; nenhum caminho vejo por onde a ave de minha mente possa alçar vôo para Teu Reino de Santidade; pois Tu, em Tua própria essência, estás santificado acima desses tributos e em Teu próprio ser estás além do alcance daqueles louvores a Ti oferecidos pelo povo que criaste. Na santidade de Teu próprio ser estás desde sempre elevado além da compreensão dos eruditos da Companhia no alto, e para sempre haverás de permanecer envolto na santidade de Tua própria realidade, jamais alcançado pelo conhecimento daqueles habitantes de Teu Reino excelso que Te glorificam o Nome.

Ó Deus, Meu Deus! Como Te posso glorificar ou descrever, inatingível que és; imensuravelmente elevado e santificado estás, acima de toda descrição e todo louvor.

Ó Deus, Meu Deus! Tem misericórdia, pois, de meu estado de desamparo, de minha pobreza, minha aflição, meu rebaixamento. Dá-me de beber do generoso cálice de Tua graça e perdão, comove-me com as doces fragrâncias de Teu amor, alegra-me o íntimo com a luz de Teu conhecimento, purifica minh’alma com os mistérios de Tua unicidade, ressuscita-me com a brisa suave que sopra dos jardins de Tua misericórdia - até que eu me aparte de tudo menos de Ti, e me segure à orla de Teu manto de grandeza, e relegue ao esquecimento tudo o que não seja Tu, e seja acompanhado pelos doces sopros que manam durante estes, Teus dias, e atinja a fidelidade em Teu limiar de Santidade, e me levante para servir Tua Causa e ser humilde diante de Teus bem-amados; até que, na presença daqueles por Ti favorecidos, eu seja o próprio nada.

Verdadeiramente, Tu és o Amparo, o Sustentáculo, o Excelso, o Mais Generoso.

Ó Deus, meu Deus! Suplico-Te pelo alvorecer da luz de Tua Beleza, que iluminou toda a Terra; e pelo relance dos olhos de Tua compaixão divina, os quais têm em conta todas as coisas; e pelo mar encapelado de Tuas dádivas, no qual todas as coisas estão imersas; e por Tuas nuvens que transbordam generosidade e chovem favores sobre a essência de todas as coisas criadas; e pelos esplendores de Tua misericórdia que existia antes de o mundo ser - que ajudes Teus eleitos a serem fiéis, e auxilies Teus bem-amados a servirem em Teu Limiar excelso, e os faças conquistar a vitória através dos batalhões de Teu poder que sobre todas as coisas predomina; que os reforces com grande hoste guerreira que procede da Assembléia do alto.

Ó meu Senhor! Eles são almas fracas que se apresentam em Tua porta; são indigentes em Teu pátio, desesperados de Tua graça, em necessidade extrema de Teu socorro, volvendo as faces para o reino de Tua unicidade, suspirando pelas bênçãos de Tuas dádivas. Ó meu Senhor! Inunda-lhes as mentes com Tua santa luz; purifica-lhes os corações com a graça de Teu amparo; alegrando-lhes o íntimo com a fragrância da felicidade que mana de Tua Companhia no alto; ilumina seus olhos pela contemplação dos sinais e símbolos de Teu poder; faze-os as insígnias da pureza, os estandartes da santidade que tremulam alto nos ápices da Terra, acima de todas as criaturas; faze com que suas palavras comovam corações duros como a rocha sólida. Possam levantar-se para Te servir e dedicar-se ao Reino de Tua divindade, e volver as faces para o domínio de Tua Auto-Subsistência, e difundir em toda parte Teus sinais, e ser iluminados por Tuas luzes resplandecentes, e desvelar Teus mistérios ocultos. Que guiem Teus servos a águas plácidas e à fonte de Tua misericórdia que salta e corre no âmago do coração de Tua unicidade. Possam eles içar a vela do desprendimento na Arca da Salvação e mover-se sobre os mares de Teu conhecimento; que estendam largas as asas da unidade e por meio delas alcem vôo para o Reino de Tua unicidade, para que se tornem servos aos quais a Assembléia Suprema dará aplauso, cujos louvores os habitantes de Teu todo-glorioso domínio haverão de pronunciar; que escutem os arautos do mundo invisível a erguer a proclamação das Mais Poderosas Boas Novas; que eles, por desejo de Te encontrar, Te invoquem e supliquem, entoando maravilhosas orações ao alvorecer da luz - ó meu Senhor que de todas as coisas dispões - vertendo lágrimas ao amanhecer e ao anoitecer, ansiando por entrar na sombra de Tua misericórdia que jamais finda.

Ajuda-os, ó meu Senhor, sob todas as condições, apoia-os em todos os tempos com Teus anjos de santidade, aqueles que são Tuas hostes invisíveis, Teus batalhões celestiais, que levam à derrota os exércitos reunidos deste mundo inferior.

Tu, em verdade, és o Potente, o Poderoso, o Forte, Aquele Que a tudo abarca, O Que tem domínio sobre tudo o que existe.

Ó santo Senhor! Ó Senhor de benevolência! Circundamos Tua morada, desejando ardentemente contemplar Tua beleza e amando todos os Teus caminhos. Somos desditosos, humildes e de pouco valor. Somos indigentes: mostra-nos misericórdia, concede-nos favores; não olhes nossas falhas, oculta nossos pecados sem fim. Apesar de sermos o que somos, ainda pertencemos a Ti, e o que pronunciamos e ouvimos é louvor a Ti, e é Tua a face que buscamos, Tua a trilha que seguimos. És o Senhor de clemência, e nós somos pecadores; estamos errantes, longe de nossa morada. Concede-nos, pois, ó Nuvem de Misericórdia, algumas gotas de chuva. Ó Jardim Florido de graça, faze manar brisa fragrante. Ó Mar de todas as dádivas, desdobra em nossa direção uma grande onda. Ó Sol de Generosidade, emite um raio de luz. Concede-nos compaixão, concede-nos graça. Por Tua beleza! Vimos sem outra provisão senão nossos pecados, sem nenhuma boa ação para relatarmos, com esperanças somente. A não ser que Teu véu ocultador nos cubra e Tua proteção nos escude e aninhe, que poder têm estas almas desamparadas para levantar e Te servir, que recursos têm estes seres aflitos para que possam exibir coragem? Tu que és o Forte, o Todo-Poderoso! ajuda-nos, favorece-nos; estamos caídos, revivifica-nos com as chuvas de Tuas nuvens de graças; somos inferiores, ilumina-nos com os raios brilhantes do Sol de Tua unicidade. Imerge estes peixes sedentos no oceano de Tua misericórdia, guia ao abrigo de Tua unidade esta caravana errante; ao manancial da guia conduze aqueles que para longe se desviaram, e concede refúgio dentro dos recintos de Tua grandeza àqueles que perderam o caminho. Refresca Tu estes lábios ressecados com as águas copiosas e gentis do céu, ressuscita estes mortos para a vida eterna. Ao cego, concede olhos para enxergar. Faze o surdo ouvir, o mudo falar. Faze com que o esmorecido se ponha em chama, torna cauteloso o desatento, alerta o orgulhoso; desperta aqueles que dormem.

És o Potente, és o Doador, és o Amoroso. Verdadeiramente és o Generoso, o Mais Excelso.

Ó vós, bem-amados de Deus, vós, os auxiliadores deste Servo evanescente! Quando o Sol da Realidade irradiou infinitos favores do Ponto do Alvorecer de todo anelo, e o mundo da existência foi iluminado de pólo a pólo com a luz sagrada, com tal intensidade emitiu Seus raios que pode banir para sempre a escuridão infernal; com isso, esta Terra de tornou-se a inveja das esferas celestiais, e este lugar inferior adquiriu a condição e a roupagem do reino altíssimo. A suave brisa de santidade soprou sobre este mundo, espargindo doces sabores; os ventos primaveris do céu perpassaram-no; sobre ele, da Fonte de todas as dádivas, manaram aragens fecundas carregadas de infinita mercê. Então raiou a brilhante alvorada, e chegaram notícias de grande júbilo. A primavera divina estava aqui, com tendas erguidas sobre o mundo contingente, de modo que toda a criação saltava e dançava. A terra seca encheu-se de floração imortal, o morto despertou para a vida eterna. Apareceram então flores de erudição mística e, evidenciando o conhecimento de Deus, brotou do solo nova vegetação. O mundo contingente exibia as generosas dádivas de Deus, o mundo visível refletia as glórias de domínios ocultos da vista. Proclamou-se o chamado de Deus, preparou-se a mesa do Convênio Eterno; o cálice do Testamento foi passado de mão em mão, o convite universal foi emitido. Então, alguns entre o povo foram acesos com o vinho do céu, enquanto outros foram deixados sem nenhuma porção desta maior das dádivas. A vista e a percepção de alguns foram iluminadas com a luz da graça, e houve aqueles que ao ouvir os hinos da unidade saltaram de júbilo. Pássaros começaram a gorjear nos jardins da santidade, e rouxinóis, nos ramos da roseira celestial, ergueram seu canto dorido. Então foram embelezados e adornados o Reino no alto e a terra inferior, e este mundo tornou-se a inveja do alto céu. Ainda assim, que lástima! os negligentes têm permanecido presos no sono desatento, e os insensatos têm desdenhado esta mais sagrada das dádivas. Os cegos continuam amortalhados em véus, os surdos não participam daquilo que sucedeu, os mortos nenhuma esperança tem de a isso atingir, assim como Ele diz: “Eles desesperam a vida vindoura, assim como os infiéis desesperam de que os habitantes dos túmulos levantem outra vez.”

Quanto a vós, ó bem-amados de Deus! Soltai as línguas e rendei graças a Ele; louvai e glorificai a Beleza do Ser Adorado, pois sorvestes deste mais puro dos cálices e estais jubilosos e ardentes com este vinho. Percebestes as doces fragrâncias da santidade e inalastes o almiscar da fidelidade das vestes de José. Das mãos dAquele que é o único Bem-Amado tendes saboreado a melhor essência da lealdade; na generosa mesa de banquete do Senhor tendes vos regalado com pratos imortais. Essa abundância é especial favor conferido por um Deus amoroso; são bênçãos e dádivas raras que derivam de Sua graça. Diz Ele no Evangelho: “Porque são muitos os chamados e poucos os escolhidos” . Isto é, a muitos isso é oferecido, mas é rara a alma escolhida para receber a grande dádiva da guia. “Assim é a generosidade de Deus: Ele a concede a quem Ele deseja, e de generosidade imensa é Deus”.

Ó vós, amados de Deus! Dos povos do mundo sopram e batem os ventos da discórdia contra a Vela do Convênio. O Rouxinol da fidelidade está cercado de renegados que são como corvos do ódio. O Pombo da lembrança de Deus é severamente oprimido pelas insensatas aves da noite, e a Gazela que habita os prados do amor de Deus está sendo caçada por animais vorazes. Mortal é o perigo, torturante a dor.

Os bem-amados do Senhor têm de manter-se estáveis como as montanhas, firmes como muros inexpugnáveis. Devem permanecer inabaláveis mesmo diante das mais deploráveis adversidades, não se entristecendo nem pelo pior dos desastres.

Que segurem-se à orla do Deus Onipotente, e ponham a na Beleza do Altíssimo; que se apoiem na ajuda infalível que provém do Antiqüíssimo Reino e dependam do cuidado e da proteção do Senhor generoso. Que eles, em todos os tempos, se refresquem e recuperem com o orvalho da graça celestial e, através dos sopros do Espírito Santo, sejam ressuscitados e renovados a cada momento. que se levantem para servir o Senhor e façam todo o possível para difundir em toda parte Seus sopros de santidade. Que sejam poderosa fortaleza para a defesa de Sua Fé, cidadela inexpugnável para as hostes da Antiga Beleza. Que guardem fielmente, de todos os lados, o edifício da Causa de Deus. Que se tornem as estrelas brilhantes de Seus luminosos céus. Pois as hordas da escuridão estão de toda parte atacando esta Causa e os povos da Terra estão resolvidos a extinguir esta Luz evidente. E desde que todas as raças da Terra estão armando ataque, como podemos deixar distrair-se-nos a atenção por um momento sequer? Ficai seguramente cientes dessas coisas, sede vigilantes e guardai a Causa de Deus.

Hoje a mais premente de todas as tarefas é a purificação do caráter, a reforma da mortal, a retificação da conduta. Cumpre aos bem-amados de Deus levantarem-se entre todos os povos com tais qualidades e ações que os ventos fragrantes que sopram sobre os jardins de santidade venham a perfumar toda a Terra e restaurar vida às almas mortas. A razão por que Deus Se tornou manifesto, e por que se irradiaram as luzes infinitas do domínio invisível, não é outra senão o treinamento das almas de todos os homens e o aperfeiçoamento do caráter de todos na Terra - de modo que indivíduos abençoados, que se tenham livrado das trevas do mundo animal, levantem-se, manifestando aquelas qualidades que são o adorno da realidade do homem. O intuito é que seres terrenos transformem-se no povo do Céu, que os que andam na escuridão ingressem na luz, e os excluídos entrem no mais interior círculo do Reino, e os que como nada figuram tornem-se íntimos da Glória eterna. O propósito é que os desapossados recebam seu quinhão do mar infinito, e os que carecem de esclarecimento sorvam, até saciarem-se, da fonte vivificadora do conhecimento; e que os sanguinários abandonem a selvageria, e os agressores cruéis tornem-se meigos e tolerantes, e os amantes da guerra procurem a verdadeira conciliação; a intenção é que as personificações da brutalidade, de garras aguçadas como navalhas, venham a desfrutar dos benefícios da paz duradoura; que os imundos aprendam que existe um domínio de pureza, e os maculados descubram o caminho para os rios da santidade.

A não ser que essas dádivas divinas sejam reveladas do âmago dos seres humanos, a generosidade da Manifestação provar-se-á ineficaz, e os deslumbrantes raios do Sol da Verdade deixarão de ter qualquer efeito.

Portanto, ó bem-amados do Senhor, esforçai-vos de coração e alma, para que possais receber um quinhão de Seus santos atributos e obter vossa porção das dádivas de Sua santidade - para vos tornardes os símbolos da unidade, os estandartes da singularidade, e buscardes os significado da unicidade; para que possais, neste jardim de Deus, erguer as vozes e cantar os jubilosos hinos do espírito. Tornai-vos como as aves que a Ele rendem graças e, nos caramanchões floridos da vida, entoai melodias que venham a deslumbrar as mentes dos que conhecem. Erguei um estandarte nos mais altos picos do mundo, uma bandeira do favor de Deus para ondular e tremular aos ventos de Sua graça; plantai uma árvore no campo da vida, entre as rosas deste mundo visível, que venha a produzir frutos frescos e doces.

Juro pelo Mestre verdadeiro que, se agirdes de acordo com as admoestações de Deus, conforme reveladas em Suas luminosas Epístolas, esta poeira escura virá a espelhar o Reino do céu, e este mundo inferior a refletir o domínio do Todo-Glorioso.

Ó vós, amados do Senhor! Louvado seja Ele! As invisíveis, transbordantes dádivas do Sol da Verdade cercam-vos de todos os lados e em todas as direções os portais de Sua misericórdia estão abertos. Agora é o tempo de tirar proveito destes favores e de beneficiar-se deles. Reconhecei o valor deste tempo - não permitais que esta oportunidade vos escape. Apertai-vos inteiramente das ocupações deste mundo tenebroso e tornai-vos conhecidos pelos atributos daquelas essências que constróem seu lar no Reino. Então havereis de ver como é intensa a glória do Sol celestial e como é ofuscante o brilho dos sinais da munificência oriundos do domínio invisível.

3

Ó vós, os bem-amados de Deus! Ó vós, os filhos de Seu Reino! Em verdade, em verdade vieram o novo céu e a nova terra. A Cidade Santa, a nova Jerusalém, desceu do alto na forma de donzela do céu, velada, formosa, sem igual, e preparada para a reunião com aqueles na Terra que a amam. A companhia angélica da Assembléia Celestial reuniu-se num chamado que percorreu o universo, todos aclamando poderosamente em altas vozes: “Esta é a Cidade de Deus e Sua morada, onde haverão de habitar os puros e santos entre Seus servos. Ele de viver entre eles, pois eles são Seu povo e Ele é seu Senhor!”

Eles lhes enxugou as lágrimas, acendeu neles a luz, alegrou seus corações e extasiou suas almas. A morte não mais lhes haverá de sobrevir nem lhes afligirão tristeza, pranto ou tribulação. O Senhor Deus Onipotente foi entronizado em Seu Reino e tornou novas todas as coisas. É esta a verdade, e qual verdade pode ser maior do que aquela anunciada pela Revelação de São João, o Divino?

Ele é Alfa e Ômega. É Ele Quem ao sedento dará de beber da fonte da água da vida e ao enfermo concederá o remédio da verdadeira salvação. Quem é assistido por essa graça é, em verdade, aquele que recebe dos Profetas de Deus e Seus santos a mais gloriosa herança. O Senhor será seu Deus e ele será Seu bem-amado filho.

Regozijai-vos, pois, ó vós, bem-amados de Deus e Seus eleitos, e vós, filhos de Deus e Seu povo, erguei as vozes para louvar e magnificar o Senhor, o Altíssimo; pois Sua luz irradiou-se, Seus sinais apareceram e as ondas de Seu oceano intumescente espargiram inumeráveis pérolas preciosas em todas as praias.

4

Louvores àquele que criou o mundo da existência, que formou tudo o que há. Aquele que elevou os sinceros a uma posição de honra, que fez o mundo invisível manifestar-se no plano do visível - e ainda assim, os homens, no estupor da embriaguez, vagueiam e desviam-se.

Ele lançou os alicerces da sublime Cidadela, inaugurou o Ciclo da Glória e fez surgir uma nova criação neste dia que é, claramente, o Dia do Juízo - e ainda assim os desatentos permanecem profundamente adormecidos na embriaguez.

O Clarim soou, a Trombeta foi soprada, o Pregoeiro ergueu o chamado e todos da Terra desfaleceram - mas ainda os mortos, nos túmulos de seus corpos, continuam adormecidos.

E o segundo clarim soou, o segundo toque seguindo-se após o primeiro, e veio o temível ai; e cada mãe que amamentava esqueceu do infante que estava no peito - e ainda assim o povo, confuso e desvairado, não percebe.

E a ressurreição alvoreceu, e a Hora soou, e a Vereda foi traçada em linha reta, e a Balança foi armada, e todos os que habitam sobre a Terra foram reunidos - mas ainda o povo não nenhum sinal do caminho.

A luz brilhou, e resplendor inundou o Monte Sinai, e vento suave sopra, provindo dos jardins do Senhor Sempre-Clemente; os doces sopros do espírito estão a perpassar, e aqueles que jazem na sepultura levantam-se - e ainda os desatentos dormem nos túmulos.

As chamas do inferno fizeram-se arder, e o céu foi trazido para perto; os jardins celestiais estão floridos, e lagoas frescas transbordam, e o paraíso reluz em beleza - mas os inconscientes ainda se atolam em sonhos vazios.

Caiu o véu, levantou-se a cortina, partiram-se as nuvens e o Senhor dos Senhores está plenamente visível - tudo isso, porém, escapou à percepção dos pecadores.

Ele é Quem fez para vós a nova criação, e trouxe o ai que excede todos os demais, e reuniu os seres santos no reino das alturas. Nisso, verdadeiramente, sinais para aqueles que têm olhos para ver.

E entre Seus sinais encontra-se o aparecimento de augúrios e jubilosas profecias, de alusões e indícios; a disseminação de muitas e variadas notícias, e as expectativas dos justos - aqueles que agora atingiram sua meta.

E entre Seus sinais estão Seus esplendores, surgindo acima do horizonte da unicidade, Suas luzes que emanam do alvorecer do poder, e o anúncio das Supremas Boas Novas por Seu Arauto, o Uno, o Incomparável. Nisso, verdadeiramente, prova brilhante para a companhia dos que sabem.

Entre Seus sinais está o fato de estar Ele manifesto, sendo visto por todos, figurando como Sua própria prova, e Sua presença entre testemunhas em todas as regiões, entre povos que contra Ele investiram assim como lobos, cercando-O de todos os lados.

Entre Seus sinais está Sua resistência face a poderosas nações e estados invencíveis, e uma hoste de inimigos sedentos de Seu sangue, todo momento a mirar Sua ruína, onde quer que Ele estivesse. É este, em verdade, assunto que merece ser escrutado por aqueles que ponderam os sinais e indícios de Deus.

Outro de Seus sinais é a maravilha de Suas palavras, a eloqüência de Sua expressão, a rapidez com que Seus Escritos eram revelados, Seus pensamentos de sabedoria, Seus versos, Suas epístolas, Suas meditações, Seu esclarecimento do Alcorão, tanto dos versículos abstrusos como dos evidentes. Por tua própria vida! Isto está claro como o dia para quem quer que contemple com os olhos da justiça.

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